5 Poemas de Will Alexander (Estados Unidos, 1948)

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Poemas traduzidos por Graco Braz Peixoto*

Will Alexander (Estados Unidos, 1948). Poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e artista visual. Obteve o Whiting Fellowship for Poetry (2001) e o California Arts Council Fellowship (2002). A poesia de Alexandre e sua arte visual foram muito influenciadas por suas leituras de Bob Kaufman, Octavio Paz e escritores francófonos da Negritude, como Aimé Cesaire e Jean-Joseph Rabéarivelo. Alexander descreve seus temas de isolamento cósmico da sociedade e descoberta interior como uma metamorfose alquímica. Grande parte de sua obra é caracterizada por essa poderosa mistura de metáfora e linguagem sofisticada.


DENTRO DO VULCÃO FANTASMA

Com o corpo de uma boneca pendendo, mórbida
minha aura arde
por turnos
por andanças
por miragens

Pelo sol em seu pântano primordial
intimado por um banquete de gafanhotos espectrais

pela barganha elétrica de um peso morto
vivendo
como se um fantasma tivesse sido transfigurado
pela soma de janelas solares explodidas
em meio a movimentos de uma infâmia viral
de uma súbita descarga de pontões
de um mágico velejar de lince acima de barcos de pura transparência

subjugado
por vazios cães de jogo minoicos
disputando oxigênio como maneira
disputando ameaças como ideal
enquanto alguém ouve o fogo
numa densa garganta eruptiva
em espelhos de hidrogênio pendurados
de modo que cada imagem é virada
para frente & para trás
em vendavais e o fantasma de vendavais

de modo que
os unicórnios de Çatal Hüyük
cessem de condensar como as formas da terra
e assumam o corpo do enigma como transparência
como abstração de um negro meteoro

o sol não mais contou
por estranhas obsessões de calendário
mas se torna
bailarino singular
que para de brigar
com a magia do fragmento como cisão

como névoa
com um elenco de poder diante do oásis

porque os cachorros do jogo
os espelhos do unicórnio
giraram com uma sede ocular que não acorda
como distância conjurada
evoluiu da força de uma atividade aclarada

como o impacto de águas turvas
numa escala que se avulta como umidade
então os olhos sempre focados
como desculpas para exibições silenciosas


AS VENTANIAS PSICOTRÓPICAS

Para checar por dentro o exame
em erratas de fumegantes campos de cana
como se assombrado com a colite fumacenta de irídio giratório
cessações

como na saliva dos iniciantes
vê-se o furor intestinal dos deltas
de girafas marinhas enegrecidas osmoticamente divididas em químicas simultâneas
acima do mar julgado brilhando com Richters

como um ovo de nêutron enfraquecido
são miragens de partículas de gasolina como espirais de gansos de caça erráticos
voando através das chamas de fumaça ulcerada & gigante
silvando o vácuo de um verdor imperial
elevando-se acima dos densos quebra-mares de cobras

o chocante desaparecimento dos mares
a falta de vida de seus ventos
queimada por irradiações de trêmulas incisões de salmoura
os golfos ardentes do sol com o brilho das explosivas utopias de adeptos do Mandeanismo
se chocam contra os retilíneos profetas do Velho Testamento
Jeremias
ou Ezequiel
ou o ossudo dedo congelado agitando cartas alquímicas atrofiadas
vindas de uma Judeia de lua incendiada
não mais do que uma vala mecanicamente queimada focada numa fumacenta
disrupção de pregadores
onde o movimento da alma está atrasado
reduzido a um esfumaçado secular agnóstico e achatado
a uma raiva terrana que elimina seus fogos sensuais e celestiais
suas raivas atordoantes e irreplicáveis
suas súbitas espirais de selênio
seu fogo que cambaleia por pseudofalhas de julgamentos pré-repetidos
seus flertes com plâncton Draconiano enriquecido

De modo que a alma com seu âmbar de dracmas de micróbios reluzentes
com suas divisibilidades de turmalinas feridas
flamejando numa luz em clima de tornados manchados
numa chuveirada de escamas de pescada & melancolia
está sepultado
dentro de um momento psíquico vazio sem sede
caindo de um forno de estrelas
em que ambos flamejam e congelam
que inculca uma botânica microbiana defeituosa
como e emulsões gramaticais hipnóticas

Dentro de uma abertura oca e elíptica onde testemunhamos velhas
cirurgias egípcias
onde os mortos se levantam magicamente dos labirintos
e olham para uma linguagem de anomalia totêmica e queimante
gerada numa miniatura herética
seus fantasmas
ecoando de suturas quadrilaterais
de breves
violentas
rajadas renunciadoras

Desarraigado
armado com as armas dos espíritos maléficos
& lagartos de árvores de bétula queimada
temperado pela luz de ângulos psicotrópicos
ardendo no meio de um verde Deus interior venusiano
contando
como se
na fumaceira da angústia
com um sangramento inclemente
com uma coroa conspurcada
pela reviravolta de altímetros instáveis


O INÚTIL ARAR

É cultivar num regime de sol inclemente
como uma besta insignificante
caída em meio a entulhos aleatórios de estrelas

mudanças de frutas
a luz, em seguida, entrava em relvas distorcidas de um mural

o fazendeiro morando com um provedor esclarecido
as formas de sua terra reduzidas
seu trigo encurvado & queimando
suas formas instáveis
esculpindo seu solo com sementes vulcânicas azuis


HIBERNAÇÃO COMPOSTA

Aqueles que me lançam olhares
que deixam de ver por dentro o sol
que deixam de imaginar seu pré-quanta desestabilizado
não pode me conhecer
não pode conhecer meu etos polido
com aparição ou flama mesclada

minha percepção através do sol anterior por mim ingerido
como pré-existência enegrecida
ou falcões por uma tarefa colhidos

o sol
com seus dualismos
com seus fótons pré-bióticos ondulantes

possivelmente
existiram nove sóis antes do sol
antes dos oceanos parecerem formados
havia rascunhos moleculares

precursores de akasha
proto-amônia flutuante

eu penso em carbono
& filetes
& inundações

de abrigo de feroz combate
onde uma geometria vazia cresce
antes da biologia separável haver nascido
antes do lastro contraditório de protozoários inexistentes

sendo flamejante fóton por abstenção
como um símbolo mágico pré-atômico
desestabilizado numa avalanche

uma rotação pré-cognitiva
galvanizações estranhas do cosmos

& por causa dela
um odor de tremor invisível
andando a esmo em grupo amedrontado de hélio

assim
os espelhos em minha pele como salamandras líquidas assombradas
como células desprovidas de refrigeração em rotações centígradas

portanto
conheço o abismo como transposição lunar volátil
como louva-deus subliminar ascendente
como estilhaços

assim sendo não sou
um iogue blasfemo ou oleoso
colapsando em erro por raiva súbita ou água

ainda estou composto
lutando com uma arritmia mental dispersiva
com uma afasia psíquica parcial
intenso
ilusório
arredio por uma composição interior


CULTIVANDO PRANA

É assim que eu respire
através de crônicas samambaias aterradoras
através de um escuro indelicado estômago

é esta réplica de urânio
este impacto apontando para trás

& quando testemunhado
causa pânico aos curiosos
para borrar
& esquecer
& sumir

eles não podem ver minha abordagem
minha aparência dorsal rebelde
meus letreiros em chuvisco negro

é minha abordagem
meu alinhavado
meu selo como aterro curvilíneo

portanto
não posso jamais me dar um nome
ou tramar a mim mesmo
de acordo com as faíscas ou os estilhaços da bancada de trabalho

atordoado
implacável com a salivação
com meu vagar insular desajeitado
sou como alguns filhotinhos escuros da águia rebitados contra a lua

então por surdez ou trazido à mesa
banqueteando-me com garças
que me retorcem num emaranhado
por uma diminuição circular
procurando sempre ter-me castrado sob minha derma
para falar comigo mesmo
de modo a cancelar meu escrutínio sem estrutura

eles falam de mim como um sem lei
tão desprezível
quando um tufão em mar calmo
quanto a moralidade
quanto a combinação fixa e acelerada
eles me cravam
como destituído
de merecimento
como um fragmento de um compêndio de leões famintos

sou considerado
como pósitron inútil sem imagem
como hieróglifo
como relógio de sol
como mártir

vagando de uma província com bárbaros índices


Graco Braz Peixoto (1955). Compositor e intérprete, tem um currículo no mínimo curioso. Possui mais de GRACO BRAZ PEIXOTO (1955). Compositor e intérprete, tem um currículo no mínimo curioso. Possui mais de oitenta gravações de suas músicas por cantores e autores de expressão no cenário da MPB, além de gravações nos EUA e Europa por artistas brasileiros. No entanto, somente em 2000 gravou seu primeiro e único disco, Kizumba-Mass, uma produção dele próprio para o selo Atração Fonográfica. Entre os parceiros mais conhecidos e/ou cantores gravados estão: Belchior, Fagner, Ednardo, Fausto Nilo, Zeca Baleiro, Chico César, Joanna, Oswaldinho do Acordeon, Nubia Lafayette, Altemar Dutra, Cláudia Barroso, Maria Alcina e Anastácia. Um destaque acima de qualquer suspeita é a canção “Noturno” (escrita em parceria com seu irmão, Caio Sílvio), cuja gravação original, pelo Fagner, foi tema central – inclusive lhe dando título – da telenovela Coração Alado, de Janet Clair, para a TV Globo em 1980. Outro bom destaque é a parceria com Daniel Taubkin que rendeu boa parte do disco A Picture of Your Life, do próprio Daniel Taubkin, produzido por Roy Cicala para o selo Blue Jackel, Estados Unidos, 2002.

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