Anna Apolinário (João Pessoa – PB, 1986), escritora, poeta, pedagoga e produtora cultural independente, organizadora do Sarau Selváticas, co-fundadora da Cia Quimera – Teatro e Poesia, integrante da Coletiva Papel Mulher. Tem diversos livros publicados, os mais recentes são: A Chave Selvagem do Sonho (Triluna, 2020), Furor de Máscaras – Poemas automáticos bilíngues (Cintra/ARC Edições, 2021), sua obra mais recente “Bruxas sussurram meu nome”, foi contemplada no Prêmio Políbio Alves de Literatura (Funjope) na categoria poesia e será publicada em 2022. Para saber mais: https://apolinario.carrd.co/
Me Chame de Legião
Os rumores nas nuvens pesam como pianos despencando no mar. Minha sombra paira com asas de chumbo no dorso macio do abismo nu. Escolhi sapatos esverdeados, lustrosos como absinto. Conto os passos, babilônica, derramo constelações, vermelhas e azuis.
Cobiçosa, tento adivinhar o desenho de teus lábios sob a máscara branca. PFF2? é a mais segura, eles dizem, um escafandro contemporâneo para pulmões temerosos. Penso na espessura, na textura e no rubor, a barba circundando a fenda inervada. A borda, a margem úmida. A saliva, a língua, serpentiforme? sou eu, sôfrega, sedenta, pantagruélica.
Tiamat estrangulando minha tempestade.
Sangue misturado com terra, placentas estremecem.
Pela janela, observo o redemoinho desvanecendo. Desço para pegar uma taça com água, resvalo de soslaio meu vestido esvoaçante de volúpia em ti, o corpo desejando o vinho, a água sustentando o frenesi. Respiro teu pavor, arranho a febre de teus bramidos. Nossos espectros brilham na tela da célula androide, animais pixelados em dispositivo sensível ao apocalipse.
7 minutos. Asas ressoam. Meus silvos devastam a cidade.
Ele apenas me regalou com uns olhos amendoados, estupefatos e famintos. Eu conheço todos teus meneios. Tateio tua virulência, devoro tua cólera, eu abrigo teus ardis. Apunhalo tua pele com minha língua de meretriz.
Em tua carne, todas as fêmeas comungam.
Quero te ouvir sussurrar meu nome enquanto gozas.