5 Poemas de Anna Apolinário

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Anna Apolinário (1986, João Pessoa/PB) é poeta, pedagoga, mestra, bruxa e mãe, idealizadora e organizadora do Sarau Selváticas e Cia Quimera -Teatro & Poesia.


A Sílfide e a Strega

Os cabelos de Delírio agora estão noturnos
Escuros como estilhaços de safiras negras
Tenebrosos são seus gritos
Mas Delírio ainda dança
Ela é um cisne cintilante dançando
Ela não consegue ver
Os vultos que ameaçam seu lume

Meu coração de bruxa sangra na lua cheia
Sangra e se desmancha feito neve rubra
Meus olhos estão silenciosos e soturnos
Os sonhos suplicam na casa em ruínas
E na escuridão dos dias caóticos
Delírio dança e eu faço preces
Afio minhas facas
Suturo úlceras abissais
Coágulos faíscam no coração


Ventura

Na bruma dos latíbulos
Panteras saboreiam a escuridão
Dentes dançam sonâmbulos
Nos arcos sonoros dos sonhos
Máscaras assobiam mistérios
Mandíbulas, línguas em lunação
E nuvens cadentes,
Nuas incandescentes
Destilam a saliva das musas,
Moiras e medusas
No coração ferido da bruxa
Devoro o fruto
Para colorir o breu
Respiro a fúria das auroras


POEMAS PARA MULHERES SURREALISTAS

O sonho cicia nos seios de Mansour

Mulher onírica com mãos de esmeralda
Ela sussurra em meus olhos
Com sua língua pontiaguda de sílex
Os cabelos, perfumados por Sekhmet
Esvoaçam vórtices e víboras
Meu sanguíneo amuleto de lápis-lazúli
Corre pelo deserto e grita no abismo
Minha enigmática deusa egípcia
Joyce, com lábios incendiados de jaspe
E o sexo dourado nas mãos do Diabo

Felina, desliza pelos telhados estrelados
Ela paira e gargalha no espelho
Ela conhece a arte do ana-suromai
Ardilosa e lírica, deliciosamente louca
Ela iça as saias para mim
O furor de Eros me devora
A lança de Tânatos me dilacera
Sismograficamente, o gozo
Entre guizos e ganidos, os signos
Sonhando, em convulsão.


Eunice enfeitiça os elementos terrestres

Acordo nua e obscura
Numa banheira talássica
A mesma antiga banheira telúrica
Que por uma semana inteira
Acolheu o corpo iluminado
De Eunice Odio

Pálpebras de neve rubra
Sangrando ao meio-dia no México
Nuca de nuvem e naufrágio
Lábios pintados em tortuosa turquesa
Coxas osculadas por ciclones
Silente, cintilante coronária
Banhada em açudes boreais
Eunice dança em meus sonhos


Delirando com Dorothea

Minhas vísceras eclodem das paredes do invisível
Dorothea pincela delírios em minha pele
Permaneço em transe, tenho febre
Dorothea Tanning tem 101 anos
E me espera num quarto de hotel
Magnólias canibalescas crescem nos seus dedos

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