Que mundo você deseja viver?

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por Aristides Oliveira

O ano está acabando e sigo carregado de inquietações sobre nosso futuro no mundo pandêmico, mas uma preocupação constante é a questão ambiental, principalmente quando se fala da preservação das terras dos povos indígenas/quilombolas. Precisamos ampliar nossa compreensão sobre o desastre em andamento. O aquecimento global segue um percurso avassalador. Que mundo desejamos viver?

Para compartilhar essas ideias, convidei a ativista ambiental na cidade de Floriano (PI), professora de geografia (graduada pela UESPI – Universidade Estadual do Piauí) Cássia Fernanda para conversar e saber suas impressões sobre o tema.

Como você se interessou pelo ativismo ambiental.

Sempre fui apaixonada por animais, plantas e tudo que remete às natureza! Meu contato com o conhecimento acerca do meio ambiente, problemas que causamos, consequências e afins vieram cedo também, durante o ensino fundamental. Atividades extracurriculares, como gincanas, feiras de ciências, eu sempre escolhia (ou torcia para que saísse, caso fosse sorteio) a temática ambiental.

Nos anos finais da graduação, tive contato com disciplinas que abordavam mais a fundo esse tema, desde então comecei a ter uma visão além. Em 2019 estudando mais um pouco sobre os impactos ambientais que traz o consumo da carne e derivados animais, me tornei vegetariana. Com isso, meu interesse sobre esse assunto só aumenta.

Ações do coletivo Floriano Verde.
Arquivo pessoal.

Que ações o coletivo Floriano Verde já mobilizou na cidade?

O Projeto Floriano Verde tem atuado de forma ainda lenta, mas já realizamos ações como mutirões de limpeza das margens do Rio Parnaíba, tanto independente como em parceria público-privado e (prefeitura e duas empresas que posso citar aqui, que são a G-gás Floriano e A3 engenharia solar, ambas visam desenvolvimento sustentável), fizemos uma caminhada ecológica, mobilizações sociais de casa em casa para tratar dessa temática, plantio de árvores e temos estado alinhado a prefeitura, para desenvolver um trabalho conjunto entre os setores.

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No seu papel de professora de Geografia, quais são os desafios que você enfrenta para expor aos alunos/as a urgência de pensar o complexo cenário em torno da crise ambiental planetária que vivemos?

Acredito que eu sou privilegiada neste sentido, pois o material didático dos alunos na escola em que trabalho, é bem atualizado e aborda em quase todos os capítulos, o meio ambiente com tema transversal ou capítulos exclusivamente dedicados a isso. Uma vez eu disse que há tanto tempo se tem falado em “os jovens são o futuro”, então creio que esse futuro já chegou, já é o agora e discutir o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável é uma pauta imediata. Bons livros com certeza irão trazer esse tema como algo imprescindível!

Em quem você se inspira para seguir seus projetos de ativismo ambiental? Conta como essa referência entrou na sua vida.

Existem muitos projetos já dedicados à preservação do meio ambiente. Eu poderia citar nomes como Greta, que está fazendo esse papel de levar a discussão ambiental adiante, tenho muita admiração, mas minha motivação partiu de ONGs como o Greenpeace e WWF.

Eu percebi que a imprensa ocupou suas pautas abordando a pandemia e o debate sobre o aquecimento global ficou um pouco de lado, o que é preocupante, pois é um tema que precisa ser debatido com frequência. Muitos dizem que é um “problema a longo prazo” a ser resolvido. Quais são os riscos de negligenciar essa problemática?

Os riscos já estão aqui na nossa cara, mas não fazemos questão de ver! A pandemia é um exemplo disso. Vida microscópica em contato desarmônico com a vida humana. Posso estar sendo radical, mas uma doença matar milhões de pessoas, através de um vírus, posso comparar a um desequilíbrio ecológico, mesmo que não haja estudos que comprovem, mas é o que parece. 

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Isso parte princípio de “ter mexido onde não deveria”. O aquecimento global já é um problema desde a Primeira Revolução Industrial. Os estudos já estão aí comprovando que nossos atos através da queima de combustíveis fósseis, tem piorado gradativamente a situação. O modelo de consumo está diretamente ligado ao agravamento do efeito estufa. Se o ser humano é tão inteligente como diz ser, já deveríamos estar pensando em novas alternativas para os meios de transporte, indústrias e afins.

É possível vincular o capitalismo a ideia de progresso humanitário ou é ingenuidade?

O capitalismo como é hoje, não! Milton Santos, um grande geógrafo brasileiro, diz que há três tipos de globalização: a globalização perversa, a globalização da fábula e a globalização da possibilidade, ou outra globalização. Por que falar de globalização? Porque o sistema capitalista se reergueu a partir do momento em que surge a globalização.

Se optarmos por outra globalização, todo o capital gerado, poderia ser revertido em melhorias em todos os setores (sociais, ambientais, educacionais), mas nós vivemos a globalização da perversidade, onde as técnicas se apoiam no grande capital e só visam o lucro.

Como você avalia a gestão do atual governo em relação a política de proteção ao meio ambiente e a demarcação de terras indígenas?

Temos acompanhado tantas barbaridades desta nova gestão, que fica difícil digerir. Não tenho muitas palavras para (des)qualificar as medidas que tem sido tomadas sobre o meio ambiente no nosso país, mas a questão dos confrontos territoriais indígenas, já é um problema que assola o Brasil há bastante tempo, só que no momento em que o representante legal desse país dá o aval para praticamente exterminar os indígenas e tomar suas terras, essa situação fica muito mais delicada. Não se tem o Estado a favor dessas causas, pelo menos não agora.

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Que tipo de humanidade nos tornamos, quando o assunto é Meio Ambiente?

Com toda minha sinceridade mesmo? Vejo os seres humanos como o lixo que não se recicla.

Recentemente Ailton Krenak disse que “A Terra pode nos deixar para trás e seguir seu caminho”. Você é otimista que haverá (em algum momento) uma conscientização da humanidade diante do processo de esfacelamento do que a natureza sofre pela ação humana? Há chances da Terra nos perdoar?

A natureza segue seu curso. Você vê áreas alagadas onde há residências? Ali um dia pode ter sido um riacho ou o curso de um rio. A água vai voltar lá. Lá é o lugar dela. O ser humano poderia aproveitar o egocentrismo e entender que o que fazemos pela natureza, é para preservar nossas próprias vidas também. Se ela vai perdoar ou não, eu não sei, mas eu sei que ela irá agradecer se deixamos de existir, porque assim ela reinará.

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