Por Leonardo Mendes e Weslley Oliveira, idealizadores e produtores do filme
SINOPSE
Leonardo cresceu indo pescar no rio Poti junto ao seu pai, também filho de pescador. Assim ele acompanha as mudanças na estética dos rios e os costumes que envolvem esses ambientes, desenvolvendo uma curiosidade em relação à memória coletiva das pessoas que, pelas pontes e margens, observam os rios. As dúvidas sobre o que o rio é e o que parece ser para a população de sua cidade o coloca em um intenso mergulho sobre a história e a paisagem urbana da cidade que habita. Da perspectiva de um pescador urbano e explorador dos rios, Leonardo resolve documentar suas reflexões sobre o passado por meio de imagens de jornais antigos e exploração de espaços estigmatizados nas beiras de rio, expondo as suas transformações de perto, em perspectivas contínuas, o passado e o presente, por meio do fazer audiovisual coletivo.
ARGUMENTO
A história pretende mostrar as evidências das transformações ocorridas na cidade e nos rios da capital do Piauí, por meio das experiências individuais, oralidade dos sujeitos, imagens de jornais e o trajeto percorrido, elementos do acúmulo de observações, interações e reflexões sobre a cidade e os rios, a partir do ponto de vista de jovens herdeiros de tradições e costumes relacionados aos entornos dos rios.
Nossas fontes estão inseridas em costumes que existem ou existiram através dos rios em Teresina. O trabalho, o estudo, a habitação, o lazer, as memórias. Estes, na forma de hábitos e costumes comuns, como a pesca, o banho, o lavar, o irrigar, o beber, o cozinhar, o navegar, as boas lembranças de rios mais vívidos, as memórias traumáticas sobre afogamentos e enchentes. Pertencimento que se forma e se apaga na cidade, proporciona um imaginário de questões sobre o presente. O crescimento urbano consolidou uma estética inacabada de cidade emergente.
Partimos da hipótese de que a construção urbana nas margens dos rios propiciou um cenário de transformações paisagísticas, ambientais e sociais. Este se dá porque percebemos o rio como um mediador de interações na sociedade e, com isso, é colocado sobre o rio um conjunto de atribuições e representações, pulverizadas em diferentes e potenciais categorias de análise.
Temos como base do trajeto a moldura desenhada pelos rios no perímetro da cidade. Buscamos contrastes nos lugares que evidenciam mudanças na cidade. Por meio da urbanização a cidade é recriada: os costumes populares, os locais de habitação e comércio, a estrutura de saneamento e de abastecimento. O centro de Teresina, segundo berço da cidade, é visto em sucessivas novas roupagens desde o deslocamento da capital para a Chapada do Corisco.
Antes um lugar residencial, com características de pequena cidade, depois um pólo atrativo para o comércio, para os migrantes em busca de oportunidades de emprego, visto o comércio emergente. Na busca por habitação, o terreno é marcado por competições, de onde surgem conflitos marcantes que movimentam a especulação imobiliária e as políticas de habitação da cidade.
Em meados da década de 1970 e no decorrer da década de 1980, foram criados conjuntos habitacionais em Teresina para realocar famílias em situação de vulnerabilidade. As favelas passam a ser alvo do “desmonte pelo progresso”, com a justificativa de obras públicas ou índices de insalubridade comprometedores. Muitas delas eram erguidas nas margens dos rios, como é o exemplo das não mais existentes “favela do Poti” e a “favela da Prainha”. Esta se formou nas margens do rio Parnaíba, sentido sul, próximo ao Centro Administrativo, e aquela nas margens do rio Poti, abaixo da ponte da Primavera, onde hoje está a extensão da Avenida Marechal Castelo Branco.
A hipótese é fundamentada com base nas representações dos rios pelo jornal impresso O Dia, apreendidas por meio de pesquisa hemerográfica. Este curta-metragem, além de uma criação coletiva, propõe, por meio de imersão direta em registros fotográficos históricos, presentes em jornais impressos, e do encontro – e os respectivos imprevistos – entre a equipe de filmagem e personagens reais, um movimento de imersão e submersão, em que se alternam passado e presente, a história e a memória de patrimônios materiais e imateriais da cidade de Teresina.
Desse modo, a proposta deste filme documentário, que pode ser considerado um registro histórico sobre os espaços urbanos em torno dos rios da capital piauiense, contribui para a valorização de aspectos da identidade teresinense e suas respectivas belezas naturais, bem como fomenta o debate sobre direito à cidade – especialmente, Teresina –, educação ambiental, racismo ambiental e a cultura do pescador urbano, entre outras problemáticas, e suas relações diretas com o comportamento coletivo.
Muito carinho por esse filme e esse processo. Obrigado Acrobata!