20 Poemas de Monica Toledo Silva

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Monica Toledo Silva (mg – sp) é artista do corpo e pesquisadora de narrativas nas imagens móveis e na performance. Professora no curso de pós graduação em História da Arte da PUC Minas, semioticista, autora de artigos sobre cinema e noções de território, migração, paisagem e presença. Realiza séries de vídeos e instalações. Organizou 2 livros (Performances da memória e Dramaturgias do Real) e publicou seu 1º de poesia em 2019, Sobre avencas, ervas daninhas e flores do mato; todos pela Impressões de Minas Editora.

Os poemas, aqui publicados, são inéditos e partem de um livrinho a ser publicado de nome celofane azul.



na esquina do mercado
conto história de mim
quem sabe quem sou eu

antes assim
acordar no tudo
sorrir o querer

depois serei outra
de outro jeito a esperar a esmo
o encontro o erro o fim

*

as imagens voltam pra cobrar.

você me viu?
vi e mostrei anos depois.
o que disse?
que me mostrei.

*

você me interrompe sempre
buscando coisas que não diz
pra frente por trás
volta e meia nunca mais

*

da beira da pele vejo o abismo
onde só existe sim

*

no pulo do susto
um pulso falta

no orvalho o grito morre
pra dentro com tudo

e eu pra fora

*

suspense:

suspenso
no ar

a queda é livre

*

o lugar de um ocupa muito espaço
eu ocupo outros
se olho sem ver
de claro não me iludo

o que nasce em mim nem sempre é meu
e segue sem dono
acordo escureço durmo
amanheço osso e pressa

nesse outro prolongamento meu
vendados os olhos podem ver
o que fica
e se move pra fora

do corpo nunca se esquece
somos todos nus

*

querer o que já se tem
atear-se a si
certificar-se que tudo que sou agora
vem do que de mim se vai

o que se faz é em mim
o que me faz é

*

rio doce, rio negro
corpo de lama não é monumento

no barro o barroco não cabe em si
na rua do resto história é sem fiim

*

cabelo solto solta um escuro
dentro de alguém um olhar se assusta

*

parece uma janela
porta pro lado de lá
e lá o quê, promessas, dívidas?

ficar então aqui mesmo
sem nada pra lembrar
dos outros
tão longe, logo ali

*

há sempre um grito
no vivo que há

*

pra quê esses guarda roupa aberto?
me ponho a correr no espaço oco
se me olham do pé pra fora
me mostro umbigo adentro

me espirram de fala sem festa
no armário de casa guardo lágrimas
e nelas me imundo até a alma
penada na poça sem chuva

*

foi gostoso ver
sua nuca me esperando
no balcão do bar

sentir sua voz, dentes dedos
olhos a desviar

dores e perdas
passadas
não movem gestos
mas espreitam da esquina
em danos

menores que eu
muito menores que seus
que nossos
sonhos

*

na nuvem que me cabe
sou todos que quero
alguém, ninguém

sempre a descoberto
nunca encontro o caminho
a seco o acaso engana

*

sempre se vive
pouco
tudo
sem sobra
em falta

se
vive

*

ah o som do sábado
que grita aquilo que você fez ontem
oculta o que ninguém mais viu
ah a noite
esconde brilha afaga
o corpo vazio na rua de luz

*

no caso do susto do sim
da boia furada, da canoa quebrada
abra as asas e voe pro fim

*

perto de lá não é por aqui
na cidade que vive de si
som do beco, grito do parque
sombras de gente sem fim

da janela a cortina resmunga:
hoje ninguém mexeu comigo
e pensa arredia
como dar conta dos outros assim

a cidade que não precisa de ninguém
vive de todos sem saber de nomes
cortina puída se engole na luz
trazendo o sono que nunca acorda

*

um desafio é sempre uma dor
uma dor nem sempre volta
alívio nem sempre é feliz
uma paixão, ah, não
de novo não
chega como se eu não a conhecesse
não pede nada nem se afoba
com esse ar de nova

dar a cara a tapa e o coração
isso sim
pra dar nisso
sempre
antes ou cedo ou tarde ou nunca
alegre, de graça
desobediente
descabida de dar dó

não, nem brinde nem beijo
de saltos altos é que se dança
o desgosto que volta novo

*

2 comentários em “20 Poemas de Monica Toledo Silva”

  1. Monica Toledo (Monquinha). Uma concisa e poética narrativa de movimentos do dia a dia , as palavras caem em queda livre sobre o texto com alma e personalidade . Orgulho de ter uma poetisa tão nossa..Chico e Dalva

    Responder
  2. Poemas que exibem pensamentos, palavras e idéias muitas vezes enigmáticos, contendo revelações que não se deixam revelar e provocando nossa imaginação, numa tentativa de ler nas entrelinhas,
    Enfim, uma maneira poética, profunda e bastante misteriosa de se expressar.

    Responder

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