3 Poemas de Jennifer Trajano

| |

Jennifer Trajano (1996) é paraibana, natural de João Pessoa-PB, professora de língua portuguesa e revisora textual. Em 2019 publicou o seu primeiro livro intitulado “Latíbulos” (poesia, Editora Escaleras). Já participou de antologias nacionais, a exemplo de “Um girassol nos teus cabelos: poemas para Marielle Franco” (2018) e “CULT Antologia Poética 3: poemas para fazer o luto desse tempo” (2020).


pátria

pela manhã vovó
mandava mainha
cozinhar congeladas
estrelas celestes
e as constelações
faziam brilhar
o fervor nas panelas

um dia nero visitou nosso céu
em tempo de cana com mel
e não havia ave
dormindo na
cadeira de balanço
ou vela de sétimo dia
para o gato da parede

então a comida queimou
os corpos ficaram
por dobrar os panos
e enterrado no quintal
o ventre da casa
que nunca foi nossa
perdeu o bebê



plágio

talvez você ainda
não tenha notado
mas o céu está caindo

não como as cinzas
breves do teu cigarro
ou como o pouso

da criança aprendendo
a andar, mas tal qual a luz
que entra pelo trago

ou a força infinita
que afunda os
pés no mar

as estrelas quedam
dentro das pupilas
de um cão que nos

mira pedindo abrigo
de um cão que regressa
ao ventre da espera

talvez você ainda
não tenha notado
mas o céu está caindo

não sei se jogando
as cápsulas das balas
atravessadas

em cima da tua crença:
a de que as luzes
são perfurações

ora, auroras boreais
seriam erupções? sei
que o céu está caindo

desce escondido
habitando o negro
dos olhos teus

olhos atirados
que caem
mirados nos meus



make

A Gabriela Conserva e Tamires Santiago

quando a mentira é cliente
monto a verdade com
máscaras de desculpas

de cara lavada escondo
as caras olheiras do
passado sem corretivo

clareio a ilusão sem sentido
insiro o rouge carmim
que eterniza o beijo

ilumino faces possíveis
bronzeando a palidez
invernal do teu rosto

com o tempo as pétalas
dos ipês vão limpando
o rímel à prova de choro

e os olhos pintam
um velho medroso
: aquele desejo de retoque

3 comentários em “3 Poemas de Jennifer Trajano”

  1. Belissimos poemas! As metáforas, a compreensão do sentido aberto (sem ser piegas); o não cair no hermetismo estéreo ao estilo de poemas esquizofrenizados que invadem livros que dizem de poesia, tudo isso, representa a certeza de estarmos diante de uma poeta verdadeira!

    Responder

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!