Patrícia Maria da Silva, paulistana de nascença, baiana de alma e coração. Professora de linguagens e seus códigos, poeta, cantora, mestra em literatura e cultura pela Universidade Federal da Bahia, graduanda em dança também pela UFBA, integrante do movimento Bellyblack e Rasq social, movimentos de dança que visam promover a dança do ventre para mulheres negras, e outros grupos minoritários tornando-a mais acessível e democrática e lutando pela visibilidade e o empoderamento das mulheres negras no mercado da dança do ventre, devolvendo essa arte a quem é de direito e há muito excluídas da possibilidade de usufruir dela. Mora em salvador desde 2008, ano em que saiu do interior da Bahia para trabalhar na capital. Começou a se inserir nas artes pela música, quando inicio os estudos de violão em uma Ong de freiras em São Paulo. Em 2011, por conta da admiração (já menos romantizada) à literatura ingressa no curso de letras e se encanta ainda mais pela arte das letras, mas desta vez por uma escrita literária em que pudesse de fato se ver representada. Hoje já formada na área de letras, se divide entre continuar dos estudos na área de literatura e cultura, se graduar em dança e lecionar tanto na área de letras quanto na área de danças árabes.
Arado
Tenho semeado
Sonhos infinitos
Nas feridas que o sal
Não sana.
Tudo arde e ouriça a
Pele em flor.
um pólen em cada poro
Espera apear a dor do peito
vontades anseiam por crescer
Lanço esperança em solo salgado
Não cessa a dor
Mas do horizonte ainda espero
A colheita enquanto miro a plantação
Improvável.
Rebento
Um poema brota,
Explode os poros
O indizível se apresenta
Inteiro.
Um poema enreda os sonhos,
Desata laços, aperta o nó do peito
Ludibria feito água de Rio acarinhado
Os pés, quando vejo, estou submersa
Em segredos infinitos.
Um poema
Insistindo em salgar feridas
Expostas ao sol.
Um poema sem volta
Eis o primeiro verso e o estrago
Está feito.
Pas de deux
Há dias em que minhas sombras
Me tiram para dançar.
Não recuso o convite,
E vamos pisando firme e
Macio nas dobras do tempo.
Minha sombra me toma nos braços
E sei que estou salva do breu
seguimos tateando quelóides,
Revirando nesse pas de deux
As frestas de cada ferida mal curada.
Aprendi a dançar o que assombra,
Na ponta dos pés,
equilibrada nos vincos
Do que ainda não cicatrizou.
