3 Poemas de Patricia Peterle

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Patricia Peterle nasceu em São Paulo, cresceu no Rio de Janeiro e mora em Florianópolis. É crítica literária, tradutora e professora de literatura italiana da Universidade Federal de Santa Catarina e poeta. Traduziu vários poetas e autores italianos. À escuta da poesia é seu livro de ensaios mais recente, saiu em 2023 pela Relicário. Outros livros são no limite da palavra: percursos pela poesia italiana (2015), Vozes: cinco décadas de poesia italiana (2018), A palavra esgarçada: poesia e pensamento em Giorgio Caproni (2018). Publicou em 2024 Perdi meu peão, mas aceito jogar pela editora Quelônio e Quando a língua bate, pela 7Letras.


Segurança sem ponteiros

Procuro a duração da segurança
não percebo que o relógio na sala
não tem ponteiros
na aparente vida mansa
o sutiã inscreve marcas
no peito

o fluxo sob a pele
beleza asfixiada
grito sem segurança


Bolhas e palavras

O menino na mão esquerda segura uma tigela
sopra sem sorriso bolhas de sabão
bolhas coloridas voam
explodem somem
a vida da bolha num instante

A palavra sopra significados desconexos
as palavras voam em preto e branco
coloridas ficam
quando se tornam companheiras
saem do casulo
não para esquadrinhar o mundo
a vida da palavra é relação


A palavra é uma trilha

A colagem é uma montagem. O que une um conjunto montanhoso a outro? Do baixo para o alto, três vezes. O movimento sinuoso traça um percurso denso por árvores, folhagens, ramificações que escondem trilhas curvas riachos alturas esconderijos. A clareira na densidade do verde. E de novo se começa a subir. Veja bem: montagem. Esta é uma palavra que conecta a letra mais montanhosa do alfabeto à sua irmã gêmea univitelina. De m a m. A sala de uma casa não deixa de ser um cenário montajoso: tapetes, enfeites, quadros, poltronas, vaso com flores. É com isso que brinca seriamente Rosler quando propõe suas colagens. Rasgos que unem universos, cortinas (por excelência limiar) que escondem a vida lá fora. Só assim é possível ver a secura de um Giacometti caminhando por uma sala burguesa rumo a corpos mortos no Vietnã. Na justaposição de planos a guerra entrou em casa. Ela não está lá fora, perdida em alguma montanha clareira ou campo de cereal. A medusa está aqui, e agora

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