4 Poemas de Paula Valéria Andrade

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Paula Valéria Andrade é poeta, escritora, artista visual, diretora de arte e professora universitária em cinema. Recebeu prêmios em Portugal, Itália, EUA, Alemanha e no Brasil: Jabuti, UBE e APCA. Em 2016, ganhou “Menção Honrosa” de poesia na FALARJ. Idealizadora e curadora do Sarau “O Feminino Infinito” em São Paulo, com 120 mulheres poetas, em 2 anos. Tem mais de 20 livros publicados entre: infantis, poesias, didáticos, antologias, contos e livros de arte. “Amores, Líquidos e Cenas” (editora Laranja Original) é seu livro de poesia de 2018; e A “Pandemia da Invisibilidade do Ser” (Editora Algaroba) é seu livro de poesia de 2019, lançado na Flip, em Paraty e em São Paulo, no Cabaret Cecília. O livro ficou em 2º lugar como Livro do Ano de 2020 no Prêmio Guarulhos de Literatura .

Foto da poeta por Marcelo Navarro.

Blog – http://paulagruber.blogspot.com/
You Tube – https://www.youtube.com/channel/UCrJ5PXCjE3tlankuCLTQBGw


ALÉM

Vejo arco-íris nos trilhos do trem
Galpões industriais
Fuligem fumaça
Cinza chumbo
Ferro ferrovia
Mas na via
Vejo o arco íris
Nos trilhos do trem
Paredes em ruinas
Entulhos nas esquinas
Muros pichados de revoltas
Questões soltas a toda a volta
Mas olho por cima e envolta
E ainda vejo o arco íris
Nos trilhos do trem
Parece que as cores
Seguem o caminho metalizado
Fluxo de luz
Que me levam além
“A Força de Dentro”, já dizia Caio,
De sua cartola
Ela vai além e nos salva a toda hora
E ainda vejo arco íris correndo
Nos trilhos do trem
Muito além.


AS MAISCARAS MÁSCARAS

As muitas faces que temos – e não vemos.

Representam o que muito desejamos – e não revelamos
E o que muitas vezes não queremos – mas no fundo somos.

Não importa por que porta se adentram,
mas de fato caminham juntos esses sentidos – por dentro –
os dois lados – contraditoriamente múltiplos –
assim mesmo em duo, multifacetados

Somos o que podemos ser – ou o que apenas conseguimos e seguimos

Somos o que não desejamos,
obscenos,
medíocres, desconfiados,
pequenos …

Recalcados, e assim fazemos de tudo e o que não queremos, mas sim o que conseguimos

(por semi-inercia)

Somos o que criamos –fantasia
desapontamentos
iludidas expectativas aterrissam.

Não executamos
abortamos
sabotamos
por egoísmo ou qualquer ismo surtamos

Usamos 10% do cérebro

Simplesmente negligenciamos
E continuamos pálidos e invernos, vivemos

Trocando as máscaras de cada dia
sacaneamos as mais divinas possibilidades
de felicidades, de pura e total chance de vivacidades

De boas oportunidades …de sinceridades,
um coração aberto? Quem é o ser humano de boa vontade?

Interessado saber executar com fineza e sabedoria
o afinar diferentes instrumentos – fase de ensaio no inicio estridentes, destoantes,

Incompatíveis – quase impossíveis

Com bom senso, doamos amor aos pedaços com talento
transformamos – enfim
o estrago outrora feito no balaio

Tudo aquilo que fez destruir / corroer /desmoronar
deixamos cair, ir embora.

Escoar esgoto subterrâneos afora.

Tentamos autodomínio
no ato da compulsão exercício ralado
de não confusão,
busca pelo encaixe perfeito
das multimáscaras
múltiplas polifonias caras alternâncias da quase

            – Multiplicação

            E por opção
            – ou intuição de autoproteção –
            daquele lado

             Que não se agrada nunca
             sem os brios

             Da controlada
             razão

Explodir em segundos

O que se demora um tempo de vida
para construir, sem máscaras ruinas de
sentido entre
céu e ar
terra chão

Chuvas perdidas

Desacertos

Liquido rio dos olhos
faz mente fluir

Filtrar pedaços
do potencial natural

E coisa e tal, de aceitar o existir.


AVESSO DA DEVOÇÃO

Você estuprou meus ouvidos | abalou meus sentidos,
me deixou no pinico | e na contramão.

Você me esgarçou | o tecido nervoso,
Fez roer osso, | calou no coração,
o calabouço, | do não-perdão.

Eu vivo a busca da beleza | a tal, da delicadeza
que não cabe a tua mesa | e nem no teu bordão.

Agora, | já passou da hora |da tal contramão.
Vou voar noutros ares | respirar lugares
Perceber a dor de antemão | dançar até rasgar o chão.

Agora, | já passou da hora, | chega, | vou me embora
Ser feliz no mundão.

E você, | fique bem contigo,
Com todos teus amigos | e quem mais,
for teu quinhão.

É melhor viver | feliz,
do que ser | como você quis,
Não nasci | para ser sua atriz.

Patriarcado | paternalismo,
Machismo | fica contigo,
Quero, não!


Marielle é Maré,
Sorriso vivo e força no pé.

Balançava o mar da Maré, no andar.
Sabia pular ondas da vida, e do mar.

A Maré é de Marielle,
e de tantas outras
tantas mulheres,
negras, brancas, pobres,
casadas, viúvas, santas.

A Maré que é alta e baixa, estreita e larga,
se acaba hoje na desgraça rasa.

A Maré chora Marielle,
derrama sua lágrima de lama.
Salgada é a dor da morte, da negra moça
Marielle?

Chacina violenta de extermínio animal,
sem igual. Teor brutal.

A Maré chora o mar de amar de Marielle,
e suas pálpebras estão cerradas para sempre.

Mulher mar, Marielle andava nas aguas bravas
Lutava nas sombrias esquinas com falta d’água

Sua voz veloz e sagaz ecoava a luta da
antiviolência
Via travessia eficaz da resistência

Clemência e sapiência da menina descalça que
saiu andando cedo de lá

Para resistir e lutar
Resistir e lutar

Por todos oprimidos e sem voz,
poder falar

Para resistir e lutar
Resistir e lutar

E no infinito,
Para sempre, nos representar.

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