Erlândia Ribeiro (Porto Velho-RO, 1995) é escritora, tendo publicado o livro de contos superfícies/irregulares pela Kotter Editorial em 2019 e seu livro de poemas, vermelho/ruína em 2021, pela Editora Urutau. É graduada em Letras Espanhol e Mestra no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – PPG-MEL pela Universidade Federal de Rondônia e, atualmente é doutoranda em Estudos Literários no Programa de Pós-Graduação do PPGL-UFES pela Universidade Federal do Espírito Santo. Trabalha com os diários da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972), seu objeto de vida e de pesquisa. É uma das fundadoras do Clube das Escritoras de Rondônia.
el fuego mata todo
espantar o passado
e perceber
o quão estranho
foi o trajeto
golpeando por todos
os lados
contabilizando
pesos sobre pesos
mas as revoltas juradas
escapam
quando toco
tuas mãos
que todo desejo
se fragmente
e vire pó
ou que toda
lembrança
seja trocada
completado o
desafio
estaremos preparados:
humanos ou doentes como bichos
amando e ainda assim erráticos.
acidentes
um acidente é também um estouro
um descuido um tropeço um gesto não pensado
assim como o vento da tua pronúncia
que é milagre
e desastre
na mesma medida
quando ancorarem os barcos
nesses antigos e tristes portos
eu estarei me despedindo
e me despindo
de todo mal
a morte virá
e eu cega
pensarei
que na verdade
seguro
tuas mãos frias.
fronteiras
pássaros negros
cruzam o céu
enquanto eu
cruzo as fronteiras
com a mesma
velocidade
e uma fúria
que move:
arrebentando asas.
zona proibida
reencontro de si
que vem num só golpe:
pela terceira vez
eu tenho que voltar sozinha
e me tornar
o meu próprio amante
rotas de estranheza
e choro
instaurados
que atravesso
porque na vida
cumprimos papéis
para os quais
não fomos feitos:
impróprios
mostro meu espírito
e te toco
– anjos caídos que somos –
tenho a liberdade
absoluta
quebrando meus dedos
não me prendo
os espelhos mostram:
há uma zona proibida
para atravessar
não tenho mais medo.
céu
apesar da desolação
pensar o céu
como possibilidade
para quem é
de carne, tesão e inocência
como somos
quase todos nós.