Leandro Rodrigues nasceu em Osasco, São Paulo, em 1976. É professor de Literatura e considera-se um antipoeta ermitão, avesso no desavesso, corinthiano de roer unhas. Pai de João Gabriel, casado com Lúcia e astrônomo de sextas e sábados. Já lançou os livros Aprendizagem cinza (Patuá, 2016), Faz sol mas eu grito (Patuá,2018) e Todas as quedas são livres (Penalux, 2020). Participou também de diversas antologias, entre elas: Hiperconexões 3 (2017), Sarau da Paulista (2019), MedioCridade (2019), 70x Caio (70 poetas homenageiam Caio Fernando Abreu, 2019). Já teve poemas publicados e traduzidos para Espanha e Estados Undidos (revista Dusie Nº 21 da UCLA – Universidade da Califórnia. Mas não acredita em nada disso. Continua aguardando na varanda os dois discos-voadores vistos na infância, para lhe proporcionarem um passeio que ainda não fez.
Os poemas publicados são do livro “Todas as quedas são livres” (Penalux, 2020)
A MENINA, O CAMINHO, A PEDRA
E O RIO
É sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço
Ana Cristina César
A menina olha o rio
É mais bela que a tarde
A pedra olha o rio
Há um caminho dentro dela
– o rito de passagem –
O rio se encanta
A tarde se encanta
A menina disfarça
Apanha a pedra
Atira-a no leito
– 3 leves golpes de encanto –
O rio sorri
A tarde sorri
A pedra afunda.
ISADORA DANÇA
Isadora Duncan
mesmo morta
ainda dança na contraluz
da Lua
Isadora ousa precipita-se
num passo solto
e profundo
padedê precipício
Então salta num voo
livre tênue
pasodoble
frágil-infinito.
NATAL NO MORRO
de sobressalto
a mãe olha para o filho
– são fogos de artifício!
meninos sonham acordados
castelos, dragões, bolas, cometas
e um país imaginário
sem balas perdidas.
CADAFALSO
As marcas de um voo morto
açúcares espalhados pelo sótão
do avesso de minha carne
costuramos madrugadas sanguíneas
marchamos para um cadafalso difuso
cores desmembram o laço
no nosso pescoço um pássaro.
O ARCO DO DESEQUILÍBRIO
(para o voo sem asa)
12
De toda a ausência
Do nada ao lugar nenhum
Da voz que arrancada
É apenas corda estremecida
De um a outro ponto do abismo
v
e
r
t
i
c
a
l
o sussurro crispado das pedras
que moldam o chão – o berço do vazio
da memória fria do pássaro em sincronia
com a queda.