A pernambucana Noélia Ribeiro mora em Brasília. Formada em Letras (Português e Inglês) na UnB, a poeta publicou Expectativa (1982), Atarantada(Verbis, 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015), Espevitada(Penalux, 2017) e Assim não vale(Arribaçã, 2022). Integra a antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira (Arribaçã, 2021) e tirou o quinto lugar no Prêmio Off Flip 2022 (Poesia). Noélia organiza e apresenta, semanalmente, a live A Fim de Poesia, no Instagram: @noeliaribeiropoeta.
Assim não Vale
O gerundiar das ondas
indo e voltando,
em oposição ao particípio de viver.
O mar fluindo em tons de
azul, desidentificando-se com os
estampidos presos à memória.
O mar contando histórias.
Não vale a vida comprimida.
Não vale ter os ombros curvados ou
a febre irrompida pelo peso do mundo.
Aquiescer ao particípio da existência
até o gran finale, sem compreender
o gerúndio das marés, não vale.
Assim não vale
Poço dos Desejos
Atirou as moedas do almoço
(pela volta de seu homem)
no abastado e mágico poço
e foi trabalhar com fome
A Pedra
Na sala, nuvens gaguejam claridade
perante pálpebras engessadas.
Saudades calcificadas germinam nos órgãos vitais
e não provocam mais do que o poema de Ana C.
The rolling stones are not under my thumb.
Solenemente, levanto a planigrafia contra a luz.
Dias e dias pouco azuis,
junto à marmota de Bill Murray,
a soletrar a palavra spleen.
Será que Sísifo tinha pedra no rim?
Folha em Branco
O poema não vem
Rabisca seu trajeto de invisibilidade
A ideia metafórica
O movimento das rochas
As querelas entre rio e mar
As vogais de nossos corpos sobrepostos
O poema quer ficar sozinho
O poema tolera-se
Afrodite
Pálida, toco entre as coxas com dedos necrófilos.
Ressuscito um gemido. Com o bico do seio,
tatuo no esquife Afrodite sobre a concha, nua.
Matam-me todos os dias.
E o gozo me perpetua.