6 Poemas de Camila Dió

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Camila Dió é uma poeta mineira de Belo Horizonte que aos 29 anos de idade se encontrou na escrita, apesar de essa ser uma paixão antiga. É formada em Artes Visuais pela UFMG e atualmente é estudante de Letras do CEFET- MG onde tem feito grandes laços e afetos que estão contribuindo com seu desbravamento do mercado editorial e que aos quais é muitíssimo grata. Publicou em 2020 o livro “não escrevo poemas de amor” (2020).


O homem que era um circo inteiro

Erguida está a tenda
Que o espetáculo se inicie!
Se apresentará Antônio – a lenda
Para que o público aprecie!

Primeiro número: Antônio o equilibrista!
O homem se mantém numa delgada linha
Com um salário charadista!
Que ora dá só para seu sustento,
ora sobra algo para o mal pago artista!

Segundo número: Antônio o malabarista!
Faz malabares com o trabalho, vida social e estudo.
Com medo de deixar cair um
Antônio quase derruba tudo!

Terceiro número: Antônio o domador de leões!
Enfrenta corajosamente outras pessoas e parentes
com suas perguntas violadoras e afrontações
que o deixam mordido ocasionalmente!

Quarto número: Antônio o palhaço!
No picadeiro é feito de bobo pela sociedade
Embaraçado, não faz estardalhaço,
mas vencido, roga por piedade!

Quinto e último número: Antônio o mágico!
Some os problemas em um copo de bebida forte!
E depois de dez goles, se considera
um homem de sorte!

Antônio é também a bela assistente
que só mostra o que é bonito
distraindo a plateia!
Que em mais nada presta atenção
e do resto, sequer faz ideia.


Quem compra?

Vendo as mazelas dos pobres
que trabalham a semana inteira noite e dia,
as cicatrizes das tragédias
e o contexto social das famílias.

Do abandono e violência,
vendo as reminiscências
e de suas lágrimas e angústias
toda essência.

Vendo os calos de todas
as mãos cansadas
e de brinde a expressão
morta das faces vencidas.

Vendo também tudo o que viram
por seus olhos magoados
e tudo aquilo que é de direito e
foi negado.

Vendo a subnutrição
e a dor no estômago.
Vendo geladeiras vazias
e toda privação.

Vendo a angústia dos pais
que ouvem o filho chorar de fome,
e a tristeza que sentem quando
inutilmente clamam por seus nomes.

Da alma, carne e pele tão sofridos
Vendo a forma como são tratados
por essa sociedade que
se autodenomina justa,
vendo toda a riqueza erguida
às suas custas.

Vendo o preconceito que têm sempre sofrido
e os olhares de desprezo que recebem
quando entram numa loja mal ou bem vestidos
E o desgosto que sentem por essa vida imberbe.

Vendo aos políticos
com seus olhares livres empatia.
Têm roupas boas, casas nobres.
Desconhecem a verdadeira agonia
enfrentada pelo Brasil dos pobres.


Os populares

Nos bairros residenciais
alguns tipos de imóveis
se destacam mais!
Vivos e residentes
em quase todo quarteirão,
dá para ouvir a balbúrdia
de qualquer portão.

É o salão de cabeleireiro
fofocando com a igreja
– que não para de cantar
que o buteco está de bebedeira
a semana inteira.

Já as casas nem dão asas
enquanto os prédios ficam atentos
esperando se inteirar
dos novos acontecimentos.

São estes os mais populares,
para além dos lares.
Será que as gentes se arrumam no salão
para irem ao buteco e depois
vão rezar que é para pedir perdão
pela embriaguez?
Uma coisa é certa,
o que não falta é freguês
E o que sobra é oferta!


A Poesia é

Um suspiro de alívio ante uma solução importante,
O Zéfiro que ergue pipas e balões ao céu distante,
O vento que provoca as ondas agitando as tempestades,
Uma lufada longa e fresca num dia quente na cidade,
A rajada que impulsiona barcos, arrebata flores e desalentos,
O sopro que varre a poeira dos momentos de esterilidade,
É a brisa em dança e prosa com mensageiros e cataventos,
O ar quente que amolece o corpo e inebria os pensamentos.
E é por isso meu amigo, que algo importante tenho aprendido:
Se me afogo em metáforas, a valorizar quando respiro!


O riso

Apanhei o riso de um bebê
que brincava no colo de sua mãe
e guardei num pote vidro.
O riso era um vaga-lume que brilhava
sem nunca se apagar
e era lindo, lindo de viver!
Me sentindo generosa
decidi que precisava
compartilhar o riso.
Abri a janela e o soltei!
Ele alcançou as alturas
com suas asinhas curtas, porém eficazes!
E o mundo rodou dias por aquele riso!
e o mundo se aqueceu com o riso!
e o mundo chorou por mais daquele riso!
e o desejou – que era tão puro e singelo –
de todo o coração, a todos os seus filhos!
Então assim, somente assim,
aquele riso compartilhado
tornou-se o riso de todo o mundo.


O lavrador de tristezas

Labutando todo santo dia
noite adentro, lua fria
vai o lavrador de tristezas
mexendo com certezas, o brio
de quem guarda um vazio.
ara o coração, fustiga
com sementes de melancolia
as propícias mentes.
seus olhos fazendo a rega
de quem as angústias não nega
e por fim, um triste fim
nasce, brota num caminho
sem volta, uma plantação
de dor e lamento
e num cessar de sofrimento
come o fruto resignado
quem quer que seja o afetado
que veste seu martírio,
que ardendo em pungente delírio
percebe que em algum momento passa,
então a dor abraça e aceita
a fruta surgida na colheita
do lavrador de tristezas.

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