Juliana Galvão (1976) nasceu e cresceu no interior de Minas. Suas matérias favoritas na escola eram Redação e Química. Estudou Odontologia também no interior. Após sete anos de formada, prestou vestibular para Letras na Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalha com edição ‒ preparação e revisão ‒ de textos literários, acadêmicos e institucionais. É autora do livro de poemas Pedraria, publicado pela Editora Patuá em 2019. e-mail: [email protected]
Crédito da foto: Samuel Vieira
Melroa
olho de ave
avista
o grão
apura
o som
ao rededor
princípio de vão
assuntar o chão
pó-velocidade
refração
no olho da ave
o calor
Olho Invisível
arbusto emaranhado
por ali detrás
fervilha
saltita vida
microcósmica
olhar passeia
passa
escaneia escrita
a letra angústia
temática
seu respirar
captura
do eninharado
a linha
contínua
embate
aceito
crostas grossas
desprendem-se
em si-pérfluas
filamento
de matéria-prima
microbiosfera
imuno-
léxico
filo
pesponto
em acabamento
enlaça a linha reta:
homeostase
imagética
Penumbra
da metade
para o fim
da tarde
água fresca
no filtro São João
água ferve
no bule ágata
torna
à xícara
de chá cítrico
toalha xadrez colorida
cesto de frutas
garrafa térmica
açucareiro de rapadura
sombreado na parede
filtra e projeta
a luz através
das janelas abertas
um restinho
de chuva
bate
no concreto
nos galhos
no asfalto
nas folhas
na sombrinha
nas pétalas
a cadeira
peneirada
joga luz
de sua palinha
na tela atrás de si
sombreado na parede
a casa
toda em
penumbras alegres
Pepitas de Girassol
de tarde
intermitente
pedra
quebra a marreta
o cachorro zen
debaixo da mesa
mentaliza o bosque
e as alamedas
rejunte cinza ou marfim
fim da tarde
finda a lida
recolhimento em escrita
de girassol
as pepitas
Elemental
ah! o
não saber
pari passu
andor
quanto
equivale(nte)
à magnitude absoluta
primeiro
átomo
depois
tecido
multiplicador
por elementar
malignidade
intempesta nocte
larabesca cintura
ferve a Graus Fahrenheit
lança
pólen alergênico
à histamina sazonal
aquiesce anoitecida
macho
fêmea
meu amor
Poeta
escuto líricas breves para a construção de uma alma enquanto passo roupa e olho um doce de côco no forno.
{quando o tabuleiro esfriar, bater as claras em neve, acrescentar açúcar e espalhar o glacê por cima do doce. levar para gelar}
desligo o ferro.
faço poema.