8 poemas de Luiza Cantanhêde

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Luiza Cantanhêde é de Santa Inês-MA. Reside em Teresina-Piauí. Possui formação em Contabilidade, membro fundadora da Academia Piauiense de Poesia. Membro da Academia Poética Brasileira. Membro da Associação de Jornalistas e escritoras do Brasil, coordenadoria Maranhão. Tem poemas publicados em antologias nacionais e internacionais. Publicou “Palafitas” (poemas, Penalux, 2016) “Amanhã, serei uma flor insana” (poemas, Penalux-2018) “Pequeno ensaio amoroso”(Poemas, Penalux-2019) Recebeu menção honrosa no Prêmio H. Dobal da Academia Piauiense de Letras, e menção honrosa no Prêmio “Vicente de Carvalho”-2018 e no Prêmio “Álvares de Azevedo-2019, ambos pela União Brasileira de Escritores. Recebeu em Pernambuco o prêmio “Destaque Nordeste”. Tem poemas traduzidos para o italiano e para o espanhol.


AJUDA-ME A ENCONTRAR TEU GRITO

Ajuda- me a encontrar o teu grito
Tua luz apagada
A vertigem de tua língua
Inalcançável
Ajuda-me a regar tua flor silvestre
Nesta orla feita de sol e primavera
Para mim, basta saber que me acolhes
Em teu voo migratório.
Quantos caminhos
Até encontrar em teus olhos
Um vestígio de eternidade?
Meus pés (trôpegos no tempo)
Perdidos, para refazer o caminho.
É preciso apagar as pegadas
Decodificar a trilha com a luz apagada
Olho-me no espelho e minha cara é de deboche,
Mas algum rasgo é de ignorância
Alguma linha tem algo de Frida
E da natureza morta no calo da vida.
Não creio nos tons amenos
Quando sinto fome.


HIMALAIA

Os dias perdidos
Foram tirando de mim
A habilidade de encontrar
A paz.
Mas resiste em mim
O olhar quieto
Das paredes
E essa asa silenciosa
De quem faz ninho nos
Desfiladeiros.


ACOLHIMENTOS

O que outrora me expulsava
Agora me aconchega

Ir embora é algo que demora
A terminar

A porta entreaberta
Mostra-me a prevalência
De ficar.

Há uma manhã nascendo
Sobre os meus remendos

Ouço a chuva mansa
No telhado da casa.


UM POEMA QUASE

Não fosse esse gosto
De chumbo derretido
Na boca
A mão estendida
Humilhada e com fome

Não fosse esse chão duro
Os ossos duros de roer

Não fosse o corpo das
Marieles, Camillas
Arethas, Emiles
Das Tânias, Dandaras
Marias

Não fosse a miséria
No mapa dos continentes
Não fosse esse grito preso
Essa indignação
Essa impotência
(O silêncio que asfixia)

Eu diria que isto é quase
Um poema.


INDIGENTIA

No caminho
Abraço minhas
Indigências
(Um Deus manco
E meus passos em falso)


VELHAS ANGÚSTIAS

Os olhos fechados

Não é silêncio, é sina

A dose de cachaça
Trincando o copo

Tenho pílulas
Pra dormir e a cara
De deboche do tempo.


A CABAÇA

Sou essa terra de chão batido
Esse sertão da língua de cinza

A fome alada, o Carcará

Sou esse deserto de poeiras
longínquas
Sou água na cabaça, o arame
Farpado, cercando o latifúndio
De sol e estrada

Sou esse fruto no avesso da
Terra plantada.


DA VOZ

Tão rústica é a minha palavra
Não tem a fineza daqueles que
Passeiam pela boca da erudição

A minha palavra é a da roça
Da enxada circundando a
Poeira ao pé das cinzas

Meu vocábulo de pedra
Dizendo “desvão “

4 comentários em “8 poemas de Luiza Cantanhêde”

  1. Grata satisfação ser publicada por esta revista de excelência máxima! Agradeço à todos que fazem a Acrobata, na pessoa de Demetrios Galvão!
    Salve, salve!

    Responder

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