Oroborus – Poema de Wanda Monteiro

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Wanda Monteiro, advogada, escritora, uma amazônida nascida à margem esquerda do rio Amazonas, em Alenquer, Pará, Brasil. Colabora com vários projetos de incentivo à leitura de seu país, seus textos poéticos são publicados em importantes revistas literárias_ impressas e digitais_ veiculadas em várias regiões do pais. Tem seus poemas publicados nas antologias: Senhoras Obscenas; Proyecto Sur Brasil, Sarau da Paulista; Mulherio de Letras/Lisboa e na primeira e histórica publicação impressa da Revista Literária GUETO. Obras publicadas: O Beijo da Chuva, 2008, Ed Amazônia; Anverso, 2011, Ed Amazônia; Duas Mulheres Entardecendo, 2015, Ed Tempo _ em parceria com a escritora Maria Helena Latinni; Aquatempo, 2016, Ed Literacidade; A Liturgia do Tempo e outros Silêncios , 2019, Ed Patuá, Aquatempo Aquatiempo, Editora Patuá, 2020. Participou neste ano de 2020 de duas publicações com textos poéticos : A coletâneas em Livro manifesto antifascista chamada Ato Poético, editora Oficina, organizado por Márcia Tiburi e Luís Maffei e o segunda, a coletânea ANTIFASCISTAS, contos, crônicas, poemas de resistência, organizada por Leonardo Valente e Carol Proner, editora Mondrongo e do Zine Despacho, editora Corsário Satã, e a plaquete Discurso Sobre la Tierra pela editora Mirada.

Traducción: Arturo Jiménez Martínez


Poema “oroborus” de Wanda Monteiro na leitura de Antônio Cunha em sua série “Do InVerso a Toda Prosa”

Oroborus

Ao meio dia um galo branco cantou
em minha janela
nesse instante fiquei a pensar na palavra deus e se ao meu modo creio o mundo é feito de palavras
esse deus pertence a quem o escreve e a quem lhe inventa o momento primeiro
e lhe dá forma e lhe diz do derradeiro
esse canto ao meio dia desse dia
em que eu assim como o galo
desaprendi a língua dos relógios
me fez lembrar de que eu esqueci o nome dos dias e dos meses e me fez querer desinventar este ano que termina na palavra vinte
e me fez pensar na palavra deus
e no desejo de caminhar no rastro do começo
lá onde tudo era nu e sem nome
no chão do princípio onde irrompe a luz
na dobra do que não era tempo
na quebra do silêncio
acordei hoje ao canto desse galo branco
ao meio desse dia de palavra calendária inventada e escrita pelo humano
e fiquei a pensar que tudo que sabemos é o tudo que lembramos ou é o tudo que lembraram por nós
assim sabemos quando lembramos do salmo escrito por um ancião que nem nasceu ou lembramos de um continente que já foi mar ou lembramos da corredeira de um rio que já secou ou lembramos de uma língua que já morreu
um galo branco em minha janela cantou
me acordou e me fez pensar na palavra deus
e na palavra tempo
esse tempo-deus uma palavra
escrita em linhas de sombras
esse deus erguido e fechado em oroborus palavra que vinga – retorna e nos aprisiona no tempo do sem fim
dessa aldeia circunscrita ao verbo


Oroborus


Al medio día un gallo blanco cantó
en mi ventana
en ese instante quedé pensando en la palabra dios y si a mi modo creó el mundo está hecho de palabras
ese dios pertenece a quien lo escribe y a quien le inventa el primer momento
y le da forma y le dice del paradero
ese canto al medio día de ese día
en que yo así como gallo
borré la lengua de los relojes
me hizo recordar que yo olvidé el nombre de los días y de los meses y me hizo querer reinventar este año que termina en la palabra veinte
y me hizo pensar en la palabra dios
y en el deseo de caminar en la huella del comienzo
allá donde todo era desnudo y sin nombre
en el suelo del principio donde irrumpe la luz
en la curvatura de lo que no era tiempo
en el colapso del silencio
desperté hoy al canto de ese gallo blanco
en medio de ese día de palabra calendario inventada y escrita por el humano
y quedé pensando que todo lo que sabemos es el todo lo que recordamos o es todo lo que recuerdan por nosotros
así sabemos cuándo recordamos del salmo escrito por un anciano que ni nació o recordamos de un continente que ya fue mar o recordamos del torrente de un río que ya secó recordamos de una lengua que ya murió
un gallo blanco en mi ventana cantó
me despertó y me hizo pensar en la palabra dios
y me hizo pensar en la palabra tiempo
y en ese tiempo dios una palabra
escrita en líneas de sombras
ese dios erguido y encerrado en oroborus palabra que venga – retorna y nos aprisiona en el tiempo del sin fin
de esa aldea circunscrita al verbo

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