3 Poemas de Hugo Francisco Rivella (Argentina, 1948)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução Elys Regina Zils

Hugo Francisco Rivella (Argentina, 1948). Autor de uma vasta obra poética e musical. Deu inúmeros recitais poético-musicais. Participou de Encontros Literários, como o V Encontro Internacional de Poesia Cali (Colômbia), Festival Internacional de Poesia de Havana (Cuba), Encontro Internacional de Poesia Paralelo Cero (Equador), Encontro Internacional de Poesia Artistas del Acero Concepción (Chile), Feira Internacional de Guadalajara (México), Festival La Palabra (Colômbia), Festival de Poesia de Medellín (Colômbia), Festival PoemaRio (Colômbia), Primavera Poética (Peru). Compôs canções com Carmen Guzmán, Ramón Navarro, Alberto Oviedo, Ica Novo, Chato Díaz, Mario Díaz, Ernesto Romero, Rubén Cruz, Diego Massimini. Entre seus livros: Caballos en la Lluvia (2003), La Hora del Relámpago (2016), La Canción del Cosmonauta Ebrio (2018) e La sombra del espejo (2019).


COM A ORELHA COLADA EM TUA GRAVIDEZ

Ouço Nina Simone cantar e isso me atravessa.
Não entendo o que diz, não sinto falta,
porque ela sussurra tempestades
cidades com mendigos e rosas
com cavalos de olhos fundos e morcegos que temem a escuridão.
A voz dela me lembra a Tina grávida
em seu suéter marrom e o sorriso tão largo quanto o de Amanda
na lembrança de Víctor Jara.

Nina Simone sobe ao céu
eu sei que não pertence à terra
mas no meu egoísmo desejo que ela não vá embora
desejo encontrá-la na volta de uma esquina qualquer no Mississippi
na chama do vento gritando contra o racismo
ou com sua voz mais profunda defendendo a paz
lutando contra a guerra do vietnã e as toupeiras da fome.
Black is the colour é a cor da vida.
O Diabo caminha em sua música como um dragão doente,
seus anjos de fumaça tornam meus olhos raros e sua ternura ressoa em meu coração

Tina, com seu suéter marrom na foto
continua de pé com os braços ao seu lado
e um sorriso de menina a toca para sempre.
Com ela aprendi a sonhar
para ver como o trigo se torna uma borboleta
a pedra no espelho que se torna uma pergunta.
Ain’t got, I got life
a eternidade ruge quando Nina Simone agita uma bandeira
e eu
ponho a minha orelha na barriga de Tina

para que sonhe o homem que tem um filho indefeso no que escreve.


CANÇÃO DO CAVALO SEM CAVALEIRO

Foi uma brasa cruzando o prado,
subiu em um cometa
quando a terra sepultava o nome do guerreiro
cavou em seu coração o esquecimento, os espelhos de sal, suas borboletas.

Vagou pela noite gravemente ferido.

O cavalo avança sem cavaleiro
A noite foi deixada para trás com seus fantasmas
as rochas silenciosas e as estrelas que descem para beijá-lo.

O cavalo avança
desde o centro da terra como uma bandeira libertária,
o chocalho de seu galope é um relâmpago na cidade adormecida.

Avança
pela rua silenciosa
o cortejo lhe ignora
os séculos o atravessam
as asas do punhal com que a morte mancha o que toca.

O cavalo avança e ninguém sabe o que aconteceu com o cavaleiro.


A PALAVRA TRANSBORDA O QUE TOCA

Tenho no coração os restos do naufrágio e a palavra como ave das cinzas

De que matéria é essa tristeza?
Essa dolorosa ausência? Esse galho sem árvore?

No homem a ferida que sangra eternamente Jesus Cristo infecciona,
quem forjou a noite a carrega na cabeça
e o ladrão de sonhos a abriga nas pálpebras,
ou talvez
com o tempo quebrado como um relógio de mica
Deus
descontroladamente deu à luz o mundo e seus trapos.

Regresso ao coração
ao pássaro de cinzas
Respiro seu segredo
o voo detido sobre o mundo queimando sua demência,

palavra
então

sai à procura do homem nos escombros da guerra e seus guanos.

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