3 Poemas de Kike Zepeda (El Salvador, 1990)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Kike Zepeda (El Salvador, 1990). Poeta. Licenciado em Antropologia Sociocultural. Autor de Oficio de pájaros (2015), Para que la muerte no te encuentre (2016), Esta Manera de olvidar (2016), Los Nadantes (2019), Laura.com y otros links (2019), Poemas con barba (2019). Poemas seus foram publicados em revistas tais como Cultura e Vecindario. Terceiro lugar no prêmio nacional de poesia “José Rutilio Quesada” (2015), Prêmio Único de Poesía “Ítalo López Vallecillos” (2016), VIII Prêmio Centroamericano de Poesía IPSO FACTO (2018). Mantém inédito o livro Llanto de la infancia extraterrestre y otros poemas.


PENELOPEA

Este é a tua verdadeira dor, Penélope:
ninguém viajou vinte anos para te reencontrar
ninguém quer voltar aos teus lábios

ninguém é o verdadeiro dono de teu amor

Todos os dias
sobes por uma escada de fios
até um vestido que ninguém baixará

Para nenhum homem te guardas tanto
como para Ninguém


OS SANTOS AMULETOS

Minha avó pendia atrás da porta o salmo 91
era para evitar, segundo me disse,
tempestades, furacões e outros tormentos
que, na verdade, nunca perturbaram nosso lar.

Eu que jamais pendi atrás de minha porta
uma ferradura de cavalo
a santa cruz de madeira
ou nenhum outro amuleto sagrado para me defender

nunca tive a fortuna
de te ver cruzar o umbral de minha poeta.


SASHA & THE BIG BLACK SAXMEN

Sasha Grey é a passageira mais bela em um dos vagões do Blue Train
onde um negro passageiro toca sax

ela se deixa cair no delírio que provoca uma escala musical que vai e vem
/ desde aqueles dedos que

ella se deja caer en el delirio que provoca una escala musical que va y viene
/ daqueles dedos que apenas se insinua
com força mais rápida sem se deter

assim

submersa no êxtase que lhe provoca cada nota
colhe com firmeza entre suas mãos aquele tubo dourado
para que o jorro de som que desce por ele caia somente em sua boca:
enquanto John Coltrane abre lugar no silêncio para um trem azul
agora descarrilhado a toda velocidade

Sasha geme naquele vagão
até que eu me converto em uma escala de jazz que tibiamente desliza
em sua boca

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