6  Poemas Ana Anka (Perú, 1955)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Ana Anka (Peru, 1955). Poeta, gestora cultural, psicóloga, palestrante, compiladora e colunista internacional. Publicou vários livros de poesia, desde 1987 em Mérida, Venezuela: Mimetismo Pendular; Huidos de Saturno; prêmio no Grande Concurso de Artes e Letras com o Ensaio: Eros y Pedagogía (2005); Siete Moradas (2007); Aquapoe (2009); Bonsai (2015); primeiro prêmio no Concurso Nacional de Ensaios, Testemunhos e Crônicas com La Batería de Poetas Avanzadoras ( 2014); Desde el mismo punto (2016); Anacópula (2017). Preside o coral eletrônico da Fundação Cultural Neoana para o Desenvolvimento Integral das Artes.


[MEU CORPO BROTA EM SETEMBRO]

Meu corpo brota em setembro
a cada momento libero perfumes
Sou goiabeira de pastos
                                    Recém nascida
Sou carícia de peito verde-amarelo
Se eu pudesse dizer espera
                                   Polpas branco-rosadas
                                                     semente saltadora

A avó amassa trigos doces
pães com rostos falecidos
Tigresa nonagenária me pintas
e descanso com minhas irmãs de pedra
as frutas são bebês perdidos
Fogo umbilical de setembro
iluminas aberta polpa em rios
único carinho de minhas irmãs


[UM GOLE DE CONHAQUE NOS ARRASTA]

Um gole de conhaque nos arrasta
suas gengivas mortas me colocam no ralo
Vago em pescoços de broncos caninos
eu destilo alegria
esse pescoço é minha adaga
nós somos mandíbulas
Anciões bifurcados suspiram


[SEM ROUPAS SOMOS MELHORES]

Sem roupas somos melhores
brisa baforada asfixia
Já não quero
São três dias e nenhuma comida escura para
Esse cheiro me abre e mostro as garras já não sou
as aberturas escutam
Torno a repetir os séculos
aquele forte cheiro salgado e doce não é
Eu me aplasto em um fio sonâmbulo


[EU A RECONHEÇO]

Eu a reconheço         é outro colapso sexual
o corpo está disposto de quatro
os raios iluminam sua espinha dorsal

mói o tempo a passos largos
e mal piscas Guaxinim
Geme a rotura
me acompanha
Eu nada quero
apenas esta cadeira de balanço

Uma velha coincidência
uma viagem necessária


[HERMAFRODITA ERRANTE]

Hermafrodita errante
eu te reconheço em minhas sombras
diante do trago és insuportável
e mal roças a flor da cana
Não sei o que
me assusta
O que?
não sei
Os tragos são sangue

Por que por que
esta bainha
As facas foram derrotadas
Que idiotice estúpida
Que covardia
Cronos passou zangado


[VEM AQUI]

Vem aqui
                                                        lombo expirado
Me provocas náuseas
                                    e sem palavras eu te vomito
desfeita sem língua
eu me jogo no gelo
até o último beijo
                  degelo
soas melhor com vodca
os morcegos dormem
Minha cama congelada
envenena as janelas
Suicídio à beira e olho para eles
Estúpidos amantes

 

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