Curadoria e tradução de Floriano Martins
(*) tradução de Gladys Mendía
O poeta peruano Carlos Augusto Luis Antonio Humberto Nicolás Oquendo Amat nasceu em 17 de abril de 1905 na cidade de Puno. Filho do político e jornalista Carlos Belisario Oquendo Álvarez, também famoso médico formado pela Universidade de Paris, e de Zoraida Amat Machicao, senhora de uma das famílias mais prestigiadas do bairro de Moho. Recebeu uma educação criteriosa dos pais, o que lhe permitiu adquirir uma sólida formação intelectual. Como resultado da perseguição política sofrida por seu pai, a família foi forçada a se estabelecer em Lima em 1908, onde completou os estudos primários e secundários e depois estudou Letras na Universidade Nacional de San Marcos, onde conheceu figuras proeminentes da literatura.
Considerado um dos maiores poetas peruanos da história junto com César Vallejo, Martín Adán e César Moro, sua obra é claramente de cunho vanguardista, uma das que inauguraram esse movimento literário no Peru. Publicou uma única coletânea de poemas entre 23 e 24 anos chamada: 5 metros de poemas (1927-1929), que é uma única folha que mede aproximadamente cinco metros, se desdobra como um acordeão e que, ao ser aberta, revela o panorama de poemas que se sucedem, como um filme e em que cada poema é uma imagem quase onírica de um mundo estranho mas sugestivo, enquadrados com cenas que se sucedem de beleza incomparável. Em alguns poemas utiliza o recurso dos caligramas que ilustram as imagens poéticas que deseja criar. Da mesma forma, refere-se à tecnologia e cultura de sua época. Seus poemas, influenciados pelo Criacionismo e pelo Ultraísmo, surpreendem pela forma literalmente gráfica. Embora também tenha obras com um tom nativista ou andinista sincero, como demonstra seu poema “Aldeanita”.
Herdeiro da ideologia e do ativismo político de seu pai, sofreu perseguições, exílio e prisão. Alternava poesia com militância partidária e combateu as ditaduras militares de Luis Sánchez Cerro e Oscar Benavides. Fundou o partido marxista de Arequipa, juntamente com o intelectual José Carlos Mariátegui.
Carlos foi finalmente expulso de seu país em 1934. Refugiou-se primeiro no Panamá. Depois foi para a Costa Rica, México, França e finalmente chegou à Espanha onde adoeceu com tuberculose e faleceu em 1936, aos trinta anos de idade, na cidade de Navacerrada.
R. DIAZ BUTRON
CAMPO
A paisagem saía de tua voz
e as nuvens dormiam na gema de teus dedos
De teus olhos fitas de alegria pendiam
a manhã
Teus vestidos
acenderam as folhas das árvores
No trem distante ia sentada
a nostalgia
E o campo virava a cara para a cidade.
P O E M A
Para ti
eu tenho impresso um sorriso no papel japonês
Olha bem
como fazes crescer a relva dos prados
Mulher
mapa de música claro de rio festa de fruta
Em tua janela
pendem trepadeiras dos volantes dos carros
e os vendedores diminuem o preço de suas mercadorias
d e i x a – m e q u e b e i j e a t u a v o z
Tua voz
QUE CANTA EM TODOS OS RAMOS DA MANHÃ
POEMA SURREALISTA DO ELEFANTE E DO CANTO
Os elefantes ortopédicos a princípio constantemente tornar-se-ão maçãs
Porque os aviadores amam as cidades acesas como flores
Música entretecida nos abrigos de inverno
Tua boca fornecedora de trejeitos ascendentes
Palmeias cálidas ao redor de tua palavra itinerário de viagens fáceis
Toma-me como às violetas abertas ao sol
MÃE
Teu nome vem lento como as músicas humildes
e de tuas mãos voam pombas brancas
Minha lembrança te veste sempre de branco
como um parque para crianças que os homens olham de longe
Um céu morre em teus braços e outro nasce em tua ternura
A teu lado o carinho se abre como uma flor quando penso
Entre ti e o horizonte
minha palavra está primitiva como a chuva ou como os hinos
Porque diante de ti se calam as rosas e a canção
COMPANHEIRA
Teus dedos sim é que sabiam se pentear como ninguém o fez
melhor que os cabelereiros especialistas dos transatlânticos
ah e teus sorrisos maravilhosas sombrinhas para o calor
tu que levas prendido na bochecha um cinema
junto a ti meu desejo é uma criança de leite
quando me dizias
a vida é direita como um papel de cartas
e eu regava a rosa de tua cabeleira sobre teus ombros
por isso e pela magnólia de teu canto
que pena
a chuva cai desigual como teu nome
JARDIM (*)
As árvores mudam
a cor de seus vestidos
As rosas voarão
de seus galhos
Uma criança derrama a água de seu olhar
e em um canto
A LUA CRESCERÁ COMO UMA PLANTA
POEMA DO MAR E DELA (*)
Tua bondade pintou o canto dos pássaros
e o mar vinha cheio em tuas palavras
de puro branco abrirá aquela estrela
e nunca mais voarão as duas andorinhas de tuas sobrancelhas
o vento move as velas como flores
eu sei que estás me esperando atrás da chuva
e és mais que teu avental e teu livro de letras
és uma surpresa perene
DENTRO DA ROSA DO DIA
SALA DOS ESPELHOS (*)
Nesta meia-noite
com grades de ar
as mãos se agitam
Onde estará a porta? Onde estará a porta?
e sempre nos encontramos de frente
Com os espelhos da vida
Com os espelhos da morte
ETERNAMENTE Jovem Velho ETERNO
Ser sempre o mesmo espelho que viramos
as mãos amarelas se agitam
e as outras mãos se perdem
e neste tudo-nada de espelhos
ser de MADEIRA
e sentir no escuro
GOLPES DO TEMPO
Maravilhoso poeta!!
Só agora conheci os poemas dele.
Vou pesquisá-lo mais.
Parabéns ao poeta Floriano Martins por conceder-nos, com suas pesquisas e divulgação de autores, momentos de alta beleza.