4 Poemas de Nishiwaki Junzaburo (Japão, 1894-1982)

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Tradução de Floriano Martins.

O poeta japonês Nishiwaki Junzaburo (1894-1982) já foi comparado a Rilke e Valéry, embora mais do que essa comparação o que importa é referir que com Junzaburo nasce uma nova tradição poética no Japão. Estudioso de literatura inglesa, seu primeiro livro é justamente “Spectrum”, de 1925, ao qual ele se referia como um livro de poemas ingleses, escritos quando residia na Grã-Bretanha. Ao retornar a seu país de nascimento levou consigo as ideias do Surrealismo, sendo seu essencial introdutor.

Obra consultada: The moderna fable (Los Angeles: Green Integer, 2007).


PRIMITIVISMO DO COPO

Ao longo da margem do rio, onde Daphnes floresce
e brilha,
passando por um anjo que tem uma maçã e um sabre,
um garoto loiro corre,
segurando firmemente entre os dedos
um peixe chamado vermelho-barriga
acima dos olhos leitosos.
O sonho de ouro se distingue.


UM HOMEM QUE LÊ HOMERO

O amanhecer e o crepúsculo, em silêncio,
como os dois lados de uma moeda de ouro,
passou por um tamarindo,
e vem todos os dias até sua garganta.
Naqueles dias ele abordou um tintureiro
no segundo andar, que lia Homero.
Naquela época, ele tinha um cachimbo de coral
com uma imagem de amores-perfeitos.
Todos os galileus se riram (seu cachimbo
parece uma carta de garota ou
um romance bizantino – Eia).
Mas seus círculos de fumaça fosforescente
florescem cristas de galo,
e o nariz e os quadris da deusa.


DIA DO INVERNO

Na estação desolada
eu percorria
o horizonte da mente sem fim
e desviou-se para uma aldeia
um porco-espinho a seu redor.
Um vagabundo cozinha carne de cachorro no fogo
do qual uma nuvem roxa flui para bem longe.
O homem que cantou no final do verão a canção das rosas
sofre com a ruína deste coração.
O coletor de sementes, o rouxinol, não fala.
Estudarei nesta aldeia, com uma lâmpada em
“Estude como Milton”,
sussurra um anjo como um diretor de universidade.
E ainda acabei jogando xadrez com um caçador e um pescador
até o mato dar flores de pera.
Agora que perdi tudo
gostaria de consagrar esta noite
à pessoa que circunda a cobertura
brincando com borboletas
ao martin-pescador e o homem que se afasta
à mulher eterna
a este dia de inverno
colocando em um copo com uma alça longa como uma torre elevada
os espinhos e as lágrimas.


DESCASCANDO IFIGÊNIA

1

veio:
cor de espinheiro,
lilás de lilás,
cabelos loiros
a mulher masculina

cristal de gasolina
Metamorfoses
de Picasso, essa linha
tênue joia
rorna-se uma rosa

2

cabeças e braços
perdem
a massa de pedra, o dente
em sua bunda, sua história
o tufo fofo de cabelo loiro
acaba na metade
fica na parte de trás e permanece
a luxúria cortada da deusa babilônica
emoção do pensamento
vem do nada
vem um verão lamentável
como uma abelha vem para as flores de uva

3

espinheiro
raspando a janela
o copo de bolota e os espinhos
“eu nunca estive apaixonada
mas a voz e a forma de um homem
me assombram nos últimos dois dias”
a tia que me escreveu isso
está preocupada

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