5 Poemas de Juan Eduardo Cirlot (Espanha, 1916-1973)

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Poemas traduzidos por Floriano Martins.
Obra consultada: Obra poética de Juan Eduardo Cirlot (Espanha: Cátedra, 1981) e Bronwyn (Espanha: Siruela, 2001).

Poeta, ensaísta, crítico de arte e cinema, tradutor, mitologista, escreveu um livro fascinante sobre o movimento surrealista, Introducción al surrealismo (1953), além de um valioso Diccionario de los Símbolos (1974), traduzido a vários idiomas. Na poesia, sua obra máxima, fruto de uma poética experimental que lhe tomaria vários anos, destaca-se Bronwyn, 1966-1971. Manteve intensa correspondência com André Breton, e ao final dos anos 1940 integrou o movimento Dau al Set, criado por Joan Brossa e do qual também participou, ao lado de vários outros, o brasileiro João Cabral de Mello Neto.


A RENÉ MAGRITTE

As mulheres com seios de papel
alumiam a harmonia dos prados.
Até as janelas chegam os veados
sob um céu de páginas de mel.

Detrás dessa cortina há um pajem
com os olhos azuis e vendados
porém nas brancas vendas pintaram
três olhos negros onde está Lúcifer.

A perna adolescente da bela
abre seus abanos de cristais
enquanto resplandece um aerólito.

A carne é um espelho e uma estrela.
O homem a contempla com punhais
porém a rosa corre enquanto cresce.


JAZZ-LILITH

Com meus olhos escuto, com meus olhos
de menta e de cristal desmesurado.
Com meus olhos de piano no crepúsculo,
com meus olhos de tigre e cerejeira.
Com meus olhos escuto os acordes,
os desgarrados sons da tarde,
os sons do amor e do soluço,
coxas que se aproximam pelo céu.
Com meus olhos escuto tantas selvas,
tantas selvas de fúria e carbúnculos.
Com meus olhos de piano, meus olhos
de fogueira abandonada no deserto.
Os acordes se rompem no canto,
os acordes se quebram nas árvores,
as coxas se aproximam pelo céu,
as coxas de magnólia e cinza.
Com meus olhos escuto ambas,
com meus olhos de menta e assassino,
com meus olhos de músico extraviado.


[IMÓVEL COMO O FERRO DA ROCHA]

Imóvel como o ferro da rocha,
detenho meu pesar no lugar
onde vi o resplendor entre as águas
e as relvas que gritam.

As folhas da rosa se misturam,
o ouro se ergue como uma pálpebra,
as mãos se comovem e as lentas
nuvens.

Bronwyn esteve aqui onde eu estive
a começar
esta inscrição tão triste como o céu.


[BRONWYN ERA O CRISTAL INUMERÁVEL]

Bronwyn era o cristal inumerável
difundido em defuntos esplendores,
com os relevos de minha cruz era
o gesto do espírito.

O bosque circundava sua ternura
e o tempo ao afastá-la de seu espaço
era manchas de como neve sangue.

Tudo tão transições luminosas,
constelações e figuras brancas
do que nunca esteve próximo,
ou viveu ao mesmo tempo em um espaço.

Tudo tão destruições silenciosas
quando as mãos fingem se conhecer
e são desertos brancos sem idade.


O TÚMULO DE BRONWYN

Misericórdia morta de seus olhos
sozinha já sem seu nome ainda
sozinha entre as muralhas azuladas
lentamente se esvaindo em seu céu.

Já sem seus corações nos cimos
sobrava entre os restos de sua luz,
e sua defesa inerme consistia
em lembrar tão-somente ruínas.

Desassistida de seus nevados sóis
e de suas suavidades montanhosas
caía em um deserto sem idade
e entidades informes a viviam.

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