2 Poemas de Rom Freschi (Argentina 1974)

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Curadoria e tradução de Gladys Mendía

Rom Freschi (Argentina, 1974) começou a publicar poesia em Buenos Aires nos anos 90. Entre seus títulos mais recentes estão El precedente (LP5 Editora, 2022), Eco del Parque, traduzido para o inglês por Jeannine Pitas, Rock Du Gateau, que deu origem à performance El amor en los tiempos del chat e o volume compilatório Iniciales iimxx. Ele fez parte do grupo “Zapatos Rojos”, do espaço “Cabaret Voltaire” e de vários outros coletivos. Atualmente, faz parte da Juana Ramírez Editora. Fundou e dirigiu a revista Plebella, cuja fase impressa produziu 25 números e da qual a Eudeba publicou uma antologia em 2013. Em 2020, Plebella iniciou uma segunda fase nas redes. Rom é professor e pesquisador em ambientes universitários e de criação.


0.1 FENOMENOLOGIA

A Juana Inés e seu Sonho

É preciso deixar cair
mundo caos
deixar cair o passado
ver entre os escombros
a arqueologia do império
quebrado.
O mundo vive incendiado
olhando ainda as estrelas
incêndios do cosmos
os séculos que nos separam
não mantêm memória.
A precaução não salva
dos degraus mais
pequenos.
Não há verdadeira cepa
ou estrato.
O que acontece é um desmoronamento
contínuo
desmoronamento
movimento tão incessante
não podemos
perceber.
O sangue das irmãs
e seus irmãos
é um adubo a mais
para a grande máquina
que consome sem olhar.
Não há olho nem consciência.
O Sonho é projetado
pelo pequeno e o grande
Poder
cego
fora de si
todos.
A vida queima
e morre.


0.2 FENÔMENO: ELECTRIC WARRIOR

A Marc e seu Tirano Saurio Rex

Vejo você
através dos éons
entre as outras peles
marsupiais voamos
no voo
esquilos
deslizam sozinhos
para baixo
tanta força para subir
é para descer
não se pode abolir
apenas alguns minutos por dia
o sentido da queda
doce passagem negra do fim
descansa em um amigo inesperado
o descanso
tudo o que está em foco
é uma distração
não existe
é de poeira
morreu há anos
como a luz das estrelas
anos atrás
conversamos com esse morto
que dança
desde o útero
até a sepultura
o encontro flutua
valsa interna
luz inequívoca
guerreiro que crava
uma arma na areia
areia brilhante
lar que se desfaz
como o eu em cada experiência
eu morre
à vista de todos
aqueles que não me conhecem de perto
é uma constelação futura
o nome
começa hoje
e não posso me ver
espelho mente
espelho não existe
espelho persegue pelo céu do oriente
a libélula vaga que se interpõe entre
eu e o real
reflexo do céu que protege
a Deus
sujeito
adeus
indústria da expressão
quero atravessar o éon
viajar a solidão da alma
na linha do corpo
que gruda na terra
horizonte dos cordões
que existem entre os corpos
destinados os corpos
a serem a terra
o céu ilumina sem nos olhar
e não é contradição
é uma multiplicidade
não há diálogo, há descoberta
não há linguagem, há grito
latido
não há ouvido
não há outro
há uma imensa abóbada
funeral caixa
que ressoa
eu pregado a um sujeito
não me reconheço
me viro
para a sucessão
de corpos que olham o céu
e cuidam do fogo
que dança no ventre.

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