3 Poemas de Valeria Zurano (Argentina 1975)

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Curadoria de Elys Regina Zils | Tradução de Gladys Mendía

Valeria Zurano. (Argentina, 1975). Poeta, escritora, professora de literatura, mestre em escrita criativa. Ela publicou os seguintes livros: La vía circular, La vida privada de los trenes, La belleza del resentimiento, Conjuro para detener el temblor, Operación Claridad, El libro de las hormigas, El Gran Capitán-Crónica de un viaje al Litoral, Las Damas Juegan Ajedrez, Barco en Llamas. Recebeu as seguintes distinções: Prêmio de Poesia da Municipalidade de Córdoba 2017. Primeiro Prêmio do Fundo Nacional de Artes 2010. Terceiro Prêmio de Conto Concurso Nacional Leopoldo Marechal 2010. Primeiro Prêmio de Conto Breve Babel 2009, Córdoba. Primeiro Prêmio Concurso Nacional Leopoldo Marechal 2008. Primeiro Prêmio de Poesia Concurso Dr. Alberto Luis Ponzo da Universidade de Morón, 1996. Primeiro Prêmio em Narrativa e Poesia no Concurso Nacional Discépolo, Secretaria de Cultura de La Matanza, 1995. Prêmio de Poesia Concurso Nacional de Poesia Alejandra Pizarnik, Associação de Escritores Argentinos ADEA, 1994. Ela faz parte de antologias nacionais e internacionais, algumas delas são Voces con vida, I Concurso de Conto Breve, Salão do Livro Hispano-americano Cidade do México; Tránsito de fuego, Jovens Poetas Latino-americanos 1972-1990, pela Casa Nacional de Letras Andrés Bello, Caracas 2009, Venezuela.


[DE TODOS OS OLHOS QUE ADORO]

De todos os olhos que adoro. De todas as mãos que tenho. Prefiro teus pés em meu caminho. De todas as bocas e palavras, prefiro as tuas para guardá-las apenas por satisfazer essa mania de acumular coisas que pertencem ao passado. De todos os jogos, esses jogos estúpidos e entediantes, prefiro os teus, que são de vida ou morte, e sempre é mais morte do que vida, e sempre me deixam perdendo tudo, apostando em nada. De todos os ombros nos quais naufrago, o teu é o mais distante, como um grande oceano, como um mar profundo e escuro de algas que flutuam se enredando nos dedos. Portanto, teu ombro é apenas um ombro sem minhas mãos. De todas as coisas que digo, apenas uma é verdadeira. De todas essas mentiras. De todas essas bocas. De todos esses braços. De todos os olhos, os que mais adoro são os meus.


[ESTA MANEIRA DE ME GUARDAR]

Esta maneira de me guardar nos caminhos do teu pescoço, no silêncio dos teus olhos, na forma da tua boca quando ambas caímos no amor espesso da noite, quando a noite nos dá suas horas para sermos a grande tempestade que se anuncia. Esta situação de fazer malabarismos com os dias, com a dor injusta que os dias propõem, com esses tons cinzentos da história enquanto a pele se desfaz se a brisa do teu hálito se aproxima, e já não podemos fazer mais do que nos esvaziar até adormecermos sobre nossos corpos. Esta estranha melodia de ouvir tua voz no eco de um caracol abandonado e cuidá-lo do silêncio enquanto estou muda e calada diante da onda que te envolve. Esta maneira de nos desfazermos, de desabarmos delicadamente sobre o desejo, sobre as roupas que nos despem, sobre o sol que nos despoja, sobre a deliciosa ideia de sentir que estamos nos perdendo. Esta força para suportar a distância fina e cruel como uma agulha, como se tua vida pudesse ser raptada pelos pássaros, como se esperar fosse o destino do jogo do tempo, como se essa agulha se cravasse na sombra, nos espelhos, na chuva, nas folhas secas que guardam o sono do nosso amor.


[ESTOU AQUI, LONGE]

Estou aqui, longe. Na noite. Esperando nas asas abertas da noite que essas asas te aproximem. Novamente esperando alguém desconhecido. É estranho quando estamos tão distantes e, no entanto, há um halo imperceptível que magicamente cobre a distância e me diz para esperar por você. É um fantasma que se aproxima em silêncio e brinca com meu cabelo e me beija os olhos e se despede nas linhas fugazes da noite. Nesse fantasma, reconheço tuas mãos, embora eu não saiba como são tuas mãos, embora os sonhos talvez sejam os que me falam e, então, eu me uno ao presságio que ele traz. Essas asas brancas que quase podem me tocar vêm navegando a lembrança para te nomear saudade na noite. Nessas noites em que tua existência estava distante e eu estava desmaiada sob a sombra de uma rocha.

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