5 Poemas de Janina Camacho (Bolívia, 1981)

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Curadoria e tradução de Gladys Mendía

Janina Camacho (Cochabamba, 1981). Poeta, publicou as coleções de poemas Los abismados seres (2006), La cruel inventora de los desvaríos (2011) e El círculo de los navegantes (2013).


CALAR

Como estranho cheio de vazio
coração cheio de nada
corpo sem alma.
Quando calo
quando guardo minha dor
neste silêncio
fico atônita
esperando que alguma palavra
se descongele.
Quando calo
se guarda a escuridão
das minhas ausências.
Nas pedras se guarda
a eternidade dos segundos
presos em um século extinto.
Minha voz taciturna
estranha para não te repetir
e não te lembrar.


OLHAR

De onde te olho
observo o luto guardado em meus olhos
te olho desde um orifício
que se abre ao mundo.
Guardando silêncio atrás de um muro
onde só cabem as órbitas dos olhos
em tempos que o mesmo relógio ignora.
Te olho guardando esta voz
retida nas esquinas das paredes.
Nesta distância pela ausência
encontrei como dizer
sinto sua falta com os olhos.
Um olhar com os olhos calados
é uma maneira de não dizer nada.

Os olhos são um lugar onde as vogais
se tornam portas
que te pedem para ouvir com a
orelha encostada ao som das lágrimas.
Te olho no verbo que é
arrastado pelo tempo.


AMANHEÇO COM PEQUENAS PALAVRAS

Amanheço com pequenas palavras
que são arrebatadas pela distância.
O assombro da terra
ao me enredar no autoexílio
logo o outono com seu universo asfixiante
e me afogará as folhas do símbolo.
E o planeta alça voo
mordendo as últimas moléculas do vento
resumidas em choros
enquanto a chuva inunda os olhos
nos olhos que ainda te desenham.


LEMBRAR DE VOCÊ

Um cheiro incerto
percorre este instante de lembranças
que me alcança a vida
para pronunciar sua nudez cigana

O luto merece lembrar de você
sua voz destilada
sua tez desenhando o sol

Seus incensos
abrigam meus vazios
e me fazem esperar por você
até a desconhecida velhice.


SOU SENDO

Busco no eco do seu riso
a memória de um fulgor lindo

Muito cedo salto
do que se ergue com a melancolia

Cansada de ser a que espera
a que ninguém vê
a que ninguém quer conhecer
fecho a porta do fatal regresso

Floresce um altar da que sou sendo
a que espera.

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