3 Poemas de Fadir Delgado Acosta (Colômbia, 1983)

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Curadoria de Elys Regina Zils
Tradução de Gladys Mendía

Fadir Delgado Acosta (Barranquilla, 1983). Poeta e narradora. Prêmio Nacional de Poesia da Colômbia, 2023, concedido pelo Ministério da Cultura deste país. Prêmio Internacional de Poesia Tiflos na Espanha 2020. Prêmio de Poesia da Universidade Nacional da Costa Rica, 2021. Foi finalista do Prêmio Internacional de Poesia da Fundação Loewe na Espanha, 2022, e do Juan Ramón Jiménez de Coral Gables, 2022 nos EUA. Prêmio Distrital de Poesia de Barranquilla, 2017. Prêmio Distrital de Conto de Barranquilla, 2018. Entre outros prêmios e menções. Alguns de seus livros publicados são: El último gesto del pez, No es el agua que hierve, Escritura del precipicio (Colômbia), Lo que diga está lleno de polvo (Equador), Amenaza de aborto (Porto Rico), Sangre seca en el espejo (Costa Rica),y la Temperatura exacta del miedo (Espanha), entre outros. Primeira Menção do Prêmio Tomás Vargas Osorio da Colômbia, 2020. Vencedora da Bolsa de Circulação Internacional para criadores, 2018, concedida pelo Ministério da Cultura da Colômbia. Prêmio de Poesia do Concurso Internacional de Literatura da Universidade de Buenaventura, Colômbia, 2014. Vencedora da Residência Artística em Montreal pelo Ministério da Cultura da Colômbia e pelo Conselho de Artes e Letras de Quebec, na área de literatura. 2013.


A NOITE QUE VIGIA OS CÃES

A avó ouve o brilho do leite quando ferve
Ela estende a água nas cordas do pátio
estende a noite nas cordas do pátio
Levo-a pela mão até o túmulo de seu filho
Ela me manda buscar água no poço do cemitério
Água
para as flores
Água
para a névoa
Água
para o filho morto
Aqui trago a água, avó
Aqui estão os seus sapatos
Aqui trago os seus olhos
Eu os encontrei

Há muito frio
Há muito
inferno nos hospitais
Há demasiadas
flores nos cemitérios
Sei que buscas a luz nas mãos das pessoas
Sei que buscas a chuva nas mãos das pessoas
Abriram as portas para os cães, avó
mas ninguém vem abrir o túmulo do teu filho
Ninguém vem abrir os teus olhos
Há pomares de neve
As pessoas submergem o rosto em montanhas de gelo
Há pessoas que veem a escuridão através dos vidros
Vamos acender lanternas na beira da casa
Veja como se faz a manhã no olho do fogo
Quero ver, avó
Olha que já trouxe as flores
olha que já recolhi a água
já imaginei que era um cavalo entrando pelo portão do cemitério
já tenho a noite vigiando os cães para que não pulem a cerca
Eles não pularão
Não virão lamber teus pés sob a cadeira de balanço, avó
Aproximam-se as mulheres que rezam alto pelas ruas
trazem cruzes no peito
rezas do rosário no peito
Vejo lenços brancos
muitos lenços brancos como se nascessem de suas bocas
Poderiam também ser tigres brancos, avó
Acredite em mim
Talvez os tigres e as mulheres não existam
talvez os tigres tenham uma procissão em outro lugar
e tu sabes disso
Porque há uma procissão para os cegos, dizes
Mas não estás cega, avó
Não te minto
Acredite em mim

Só tens a luz enjaulada
E ninguém veio abrir a porta
E ninguém veio abrir a porta
Só tens a luz enjaulada
E a luz se quebrou nos teus olhos.


A PONTE

Sou uma ponte

Mas diga-me se você acha que sou uma jaula e me culpa por não abrir a porta

Devo te dizer que não existe chave alguma que abra a escuridão

Diga-me se sob a ponte você vê a incerteza na cabeça dos enforcados
Se eu tenho a raiva dos animais que têm espuma nos olhos
Se eu tenho a dor igual a de um vagabundo enrolado da cabeça aos pés

Diga-me que você não viu o pânico como um cão que fuça em sacos de lixo
que o choro não deixa uma mancha de óleo em sua carne
que quando você nascer cego não olhará para trás
mas você buscará a chuva no fundo das pedras
que quando você golpear para fora
não acabará com a ponte
você a deixará sobre o rio
mesmo que o rio já não exista

Você não tirará o trovão do meio-dia
Você não buscará nenhuma chave para a escuridão
Diga-me
que você não oferecerá como saída outro labirinto
que do seu choro não se abrirá o branco do papel
para escrever o precipício.


AMEAÇA DE ABORTO

Este sangue que desce pelas minhas pernas
não podem ser tuas mãos
Este sangue que desce pelas minhas pernas
não pode ser tua cabeça
Este sangue que desce pelas minhas pernas
não pode ser tua boca

Espera que abram a porta do hospital
Segura-te forte
Espera que saia algum deus das palavras
que a luz do centro cirúrgico incendeie os olhos

Diz-me que há uma corda
Diz-me que a vês
Diz-me que já a encontraste
Não é hora de sair
rapaz

Este sangue não é teu corpo
Tens que entender
É impossível
As mãos de tua mãe não conseguirão te segurar
porque é impossível embalar o sangue

Tens que entender

Se desceres secarás como o musgo nas pedras
e minhas mãos não são pedras

Tens que saber

Este não és tu
Não desças
Não batas na porta
Pare
Deixas algo importante
Esqueces
teu próprio corpo.

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