5 Poemas de Ángela García (Colômbia, 1957)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Ángela García nasceu em Medellín (Colômbia) em 1957 e reside em Malmö (Suécia). Poeta, tradutora, gestora cultural. Cofundadora do Festival Internacional de Poesia em Medellín. Publicou, entre outros: Entre leño y llama (Ed. Prometeo), Rostro de Agua (Ed. Prometeo), Farallón Constelado/ Sternige Klippe (Ed. Delta), De la fugacidad/ Om flyktigheten (Ed. Aura Latina), Veinte grados de latitud en tres horas (Ed. Smederevo), Doce poemas sobre el silencio/ Tolv dikter om tystnaden (Ed. Poesía con C.), Todo lo que amo nace continuamente (Ed. Universidad EAFIT), Retablos del movimiento (Ed. Aura Latina), Apuntes para el Ejecutante (Ed. La Otra), Io sono la vertige (Ed. La Vencedora) e Se arrodillan para beber (Ed. Visor), Prêmio de Poesia Casa de América de poesia americana 2021. Dirige Världspoesidagen i Malmö/Lund. Traduziu poetas e escritores suecos para o espanhol e co-dirigiu dois documentários poéticos.


*****

A solidão de dois é a nau.
Fugimos para o mar, deixamos na margem
as pesadas roupas dos planos do dia.

Remamos igualmente em uma trajetória
sem vias, nem portos,
rumo ao propiciatório silêncio de dois.

Somos como dois pedaços de árvore
que se esfregam até sair da matéria,
até que o fogo irrompe.

Em seguida, contemplamos arder
esta criatura ígnea que treme e cresce
com o vento do mar.

Tenho visto flamejar em teus olhos
meu deleite,
no pulso
fortalecido do meu sangue.


*****

Chego a ti para não me ter,
para permitir que me tenhas.

Assomando em mim,
ajudas-me a ver
o que voltará a mim
quando eu me voltar a ter.

Quando me tens, vejo-me
a partir de ti, a outra.
Uma parte do teu corpo.


*****

A jovem e a dama
reunidas no mesmo corpo
se ajoelham para beber
da fonte entre as pedras.

Conforme recebe, oferece.
Seu corpo, assim, carece de dimensões.


*****

E apenas língua e lábios
em sua verdade profunda
quando limitam com os teus.

Me aproximo deles,
me junto a eles
para reconhecer os meus.

E embora não possa ver
sinto que a língua se acomoda
à água pura saindo da tua boca.

Como quando fecho os olhos para escrever,
sinto que minha boca vê
com a forma do arquear da sede,
a do tremor dos lábios.

Sei que desconheceria meu rosto neste instante,
este que bebe da vida que mana
não é o mesmo do espelho.

Este que bebe com olhos fechados
quando o corpo inteiro se aglutina
no limite aquoso das duas bocas
provando a temperatura
escondida na rocha.


*****

Aprendo da nudez para envolver-te,
aprendo da nudez para descobrir-te,
para nos movermos no tempo minúsculo
e reconhecer o vértice do durável,
com passos que não se apagarão
na areia que vem.

Não sou eu quem te ama,
é minha filha primogênita
a que gerei depois das despedidas.
necessárias.

Mas dela e minha é o mel
depositado em teu umbigo,
no vão do teu peito
e o da tua axila.

O que nos iguala em idade é o sorriso
que não conhece calendários
nem contabilidade,
mas conhece o resplendor.

Se cabem céu e cordilheira neste abraço,
declaro-me guardiã
de seus doces recantos sob as pedras,
de suas duras encostas em cujos cumes
a luz nos fala, nos inundando.

É a missão que imponho ao corpo:
Abraçar o que É!

3 comentários em “5 Poemas de Ángela García (Colômbia, 1957)”

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