María Musgo (Costa Rica, 1996)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

María Musgo nasceu em San José, Costa Rica, em 1996. Também é fotógrafa e estudante de Física. Seus poemas foram publicados nas revistas Cardenal (México), Samoa (Costa Rica), La Raíz Invertida (Colômbia) e Poéticas Marcianas (México) e Periódico de Poesía UNAM (México).


[VOU PASSAR]

Vou passar os dias tímidos do verão contigo.
Vou deixar o musgo crescer ao nosso redor.
Vou desacelerar as horas.
Vou contar aos meus pais
que estou saindo por alguns dias, há
uma dormida que me espera.
Eles me garantem
Que nesse povoado não há ninhos.
Nesse lugar
O que nos resta então?

Vou te levar ao primeiro lugar onde fui sozinha. Eu tinha doze anos e passava as tardes caminhando, terminando sempre no cais de Parismina.

Vou contar a vocês as histórias das montanhas. Não estas aqui, mas outras. Nas montanhas é preciso respeitar os animais, eles apagam as luzes à noite, acendem as velas ao amanhecer.

Vou contar a vocês sobre os pardais e como eles se moviam no ar. Dentro do carro estávamos amontoados, mas ouvindo e cantando. Eu era uma garota verso no peito e isso me bastava.

Vou contar a vocês sobre minha família e meus medos. Dos meus medos e da família. De tudo o que reside aqui, quando escrevo. Das minhas mãos enrugadas como mapas.

Vou me desculpar antecipadamente quando estiveres prestes a me tocar.
E vou avisar sobre o musgo, sobre a terra que cresce da minha barriga para cima. Vais tocar nas minhocas e ver os primeiros passos das flores em meu corpo. Vais pensar que o verão é uma coisa linda. Pequeno, circular e bonito. Como um amuleto antigo que se abre. Como praias que tremeluzem.

Vou separar a água pelos seus buracos.
Vou te pegar pela mão e nos transformar em sussurros perpétuos.
Alguém vai ouvir nossa dor do outro lado.


[QUERIDO DIÁRIO]

Querido diário, queridos cumes:

Eu durmo sozinha.
Movo-me lentamente no colchão.
A madrugada está úmida.
O primeiro calor depois da chuva
É macio em meu corpo como uma língua.

Eu aprendi a escrever
à medida que os primeiros navios aprendiam a zarpar.
Eu balbuciava sílabas e minhas pernas tremiam.
Aprendi a escrever no mar – sua mão à minha esquerda,
as altas montanhas à minha direita.

Escrevia:
querido diário, queridos cumes.

Acordo sozinha.
Caio sobre meu corpo exausto.
Pulsos de luz, palavras enormes.
Eu libero as minhas promessas ao vento.

Hoje eu procuro uma linguagem profunda
os breves abismos
os golpes perfeitos.

Faço o café sozinha.
Mudo do branco para o corpo
do corpo para a ferida
da ferida para a flecha
da flecha para o animal.
O pôr do sol é uma cerimônia religiosa.
Eu me movo devagar
como se esperasse que ele erguesse
o verão em meus braços.
Então posso ver algo novo.
Então meus pés manterão o sussurro
das marés indisciplinadas.

Nado em águas silenciosas.
A água começa nas alturas.
A água abre as pastagens.
Inunda os ninhos.

Querido diário, queridos cumes:

É novembro.
Sinto uma forte vertigem embaixo de mim.


[ESTOU ESPERANDO]

Estou esperando para ver em tuas mãos
um poema esquecido
De teus bocejos eu deixo um punhado de sujeira
que me lembre dos dias
que passamos nas montanhas.
Estás sempre um passo à frente
carregando os castelos de musgo nas costas.

Um dia iremos procurar pássaros mortos
e eu te prepararei uma sopa com a água do oceano.
Vou estremecer com a lembrança das pedras
que nos esmagou naquele verão.
Vou me lembrar de como flutuamos entre as folhas secas.
Nas minhas mãos, os besouros fugindo.
O abraço que me deste me protege do sol.

Estou esperando para ouvir o último consolo
a última risada de uma garota
o último galope de tuas feridas.
Vais me contar uma e outra vez
a história d e teu pai.
Vais pensar em como vou contar tua história
para meus filhos.
Nada se tece da mesma maneira.
Vou te fazer perguntas até que me olhes cansado
tentando esconder que estás com sono
porque tiveste uma vida longe de mim.

Eu pensei em teu corpo como uma sombra
que me segue sem freios.
O homem das sombras olha para mim sem vergonha.
Ele ainda tem olhos brilhantes. Se eu
Chego perto o suficiente, sei que ele vai me dizer:
A felicidade se espalha, filha.

Eu olharia para as tuas mãos por horas
até sentir nelas
teu choro seco.

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