3 Poemas de Melvyn Aguilar (Costa Rica, 1966)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Melvyn Aguilar (Costa Rica, 1966). Estudou sociologia na Universidade da Costa Rica. É cofundador do Colectivo Octubre Alfil 4, do Colectivo Voz Urbana. Fundador e diretor do Taller Anti-Taller Anti, dirigiu a revista de literatura costarriquenha La Mandrágula. Publicou Territorios habituales (Editorial Arboleda, 2006), Xarxa D’ Aranya (Ediciones Espiral, 2012), MayDay (Ediciones Espiral, 2015), No te mueras en Palermo (Word Graphics ediciones, 2024). Sua poesia foi publicada em diversas antologias: Versos para bailar o no (Editorial ALMUZARA, Almería España, 2019), Poesía del Encuentro. Antología del VII Encuentro Internacional de Escritores, Costa Rica 2010 (Media Isla Editores); Noches de poesía en el farolito (Editorial Perro Azul, 2007); Sostener la Palabra (Editorial Arboleda), Lunada Poética. Poesía Costarricense actual (Ediciones Andrómeda, 2005), e no Anuario de Arte Costarricense (1994), além de diversas revistas nacionais e internacionais. Editor e fundador da revista de poesia e do selo editorial “El Pez Soluble”. E responsável pelo design e layout da plataforma de EntreTmas Revista Digital, publicada em Nova York. Publica desde 2010 no Blog “La Ratonera”. Possui coleções inéditas de poemas: Modus Operandi (poesía) 2015, Malversación del Paraíso (poesía) 2011, Detrás del conejo del espejo (Poesía), 1996, Kaldunia (Poesía), 1993. Atualmente trabalha na coletânea de poemas Azul e no romance 1166 Frágil. Reside em El Salvador desde 2016.


CARTA A ISABEL RIMBAUD

Felix qui potuit rerum cogmocere causas
Virgilio

O teu é um feitiço heterogêneo
Isabel,
esconder a vergonha alheia, póstuma
com a perversidade sinuosa das fogueiras
– fatuidade, fatuidade –
Teria sido melhor renunciar ao sobrenome
do que correr pela história apagando incêndios em palácios
da moralidade.

Pois não será culpado quem seduziu o mesmíssimo amor com consentimento
dos chiqueiros.

Mas sim quem
perpetuamente enlute
com um rosário nas mãos e um sátiro, um demônio
entre as pernas.

Eu sei de teu pecado,
Isabel,
a tua vergonha tinha um nome.

E beijava um lábio, uma mão, uma coxa
com a mesma sensualidade com que beija uma adaga
e logo fugia levando tudo consigo:
o brilho da miséria,
os cadáveres anônimos dos jogos imperiais,
o absinto verde com que os amantes se embriagam,
os crucifixos, o marfim, a presunção dos poetas
e aquele olhar ávido de menina
que agora se esconde atrás do laço fúnebre da dor.


UMA PEQUENA CANÇÃO PARA A PROVECTA LIDDELL

– Deixe o júri considerar seu veredicto, ordenou o Rei –
Não não! – disse a Rainha – A sentença primeiro, o veredicto depois.

Não brinque no pomar, pequena Liddell
porque hoje haverá monstros no nevoeiro,
jovens desdobrando o vórtice das bússolas
onde o olho híbrido de Dogson pisca.

Não brinques porque virão temíveis repugnantes,
decompondo canções vitorianas,
macacos falastrões e mulheres-cobra
afugentando
e devorando as pombas
                                     – E Deus será impossível –
e inútil
                 Liddell
Se o rei vermelho acordar.

Não faças de conta que sonhas, que sonham contigo,
e nem sonhes que brincas
porque vais transmutar
Liddell
como a filha de Hécate em Escila
ou como Jekyll foi Hyde em Stevenson.

E não ames os loucos
                                     pequena
porque eles sonham e não acordam
e em seus aposentos,
sempre dão seis horas
                                     e nunca há chá.


THE FLOWER IS DEAD

1
A cidade dorme
                 sob uma lua laranja,
quase no mesmo instante
em que uma mulher deixa de saber que é bela,
quem preservará a fé
                                                       caso indague,
imbuída em seu vestido
encharcado de luz.

2
Em outubro
as conchas ruminam sobre a solidão
                                                      e as flores,
perdem a cabeça
sob os aguaceros.


3
Aí, a flor jugulada,
com sua dentadura de neve,
um enxame colossal de fadas
a protege.

Nao vejo,
nada vejo,
nada advirto,
o jardim está escuro
após o retorno do minha andorinha de açúcar,
que canta uma cantiga enervante
em sua fúnebre ressurreição de pássara.

Tatuadas traz as penas
                                                       com meu nome
e um saquinho cheio de alpiste
e trigo no peito.

Traz almíscar
para instaurar nas nuvens
seu governo de fêmures perfumados
navalhas nas patas
                 para deflorar a terra.


4
As flores
são de pedra
no jardim,
aqui
há um lago
e em suas águas
                                     – um peixe mármore –
com cabeça de arandela
lá fora,
apenas o efêmero
e o canto de LanTs’ai-ho
no vento.


5
Ontem
as meninas fugiram
para o outro lado da fronteira de jorcos
deixaram para trás frutas
vermelhas,
                  maduras.

Partiram nuas,
cobertas de papoulas
                                                       e pistolas.

6
Elas,
indagam o céu
e os olhos castanhos de um gato cinza.
Dizem:
                   – Haverá lua cheia –
e com a maré alta,
chuva.

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