Conceição Rodrigues é poeta, romancista, contista e cronista. Publicou em 2020 “Molhada até os ossos”, poemas; Em 2021, “Os dedos das santas costumam faiscar”, poemas. Publicou em 2023 “E deus não acudiu ninguém”, contos. Seu livro mais recente, 2025, é “Para dançar na cerca elétrica”, poemas. Todos pela Editora Patuá.
É mestre em Estudos da Linguagem, UFRPE. // @cecitarodrigues
três mulheres de saias listradas
dançam no gelo
e no fogo
birkenau
dachau
treblinka
uma baila nas salas torturantes
outra brinca na roleta russa
a última quer fazer ginástica e tomar banho de sol
birkenau
dachau
treblinka
uma queima peles e couros
outra tosquia ovelhas e quer inaugurar
um circo amador de pulgas
a terceira conta estrelas
e dança na cerca elétrica
tu que cultivas
teus jardins
de camélias
hortênsias
crisântemos
que regas as rosas amarelas
e cuidas para que as daninhas sequer brechem tuas flores
tu que incentivas o sol
e que deitas o olhar sob a luz das estrelas
entre as folhas que dançam com elegância e preguiça
que torces para que o vento não entorte os caules
que desejas que a brisa refresque o abafado que sobe
da terra e o calor que recebe do firmamento
que tens as unhas germinadas de solo preto que gesta
tu que te espantas da falta de flores diante das
mortalhas faiscadas de pavor hidrogênio e hélio
que te alumbras com as rosas partidas
nos ares de gás e névoa
dos aviões que desprendem
surpresas de enxofre
urânio
plutônio
nêutron
tu que cultivas teus jardins
de camélias
hortênsias
crisântemos
és adubo da terra
as armas da guarda
e os sapatos dos espíritos
descansam de suas obrigações
nefastas
um sorriso de ironia se apossou de minha cara-metálico
como poltergeist em chuviscos na tv
o desertor dessa guerra fálica
é só um desertor
