Sergio Cohn nasceu em São Paulo em 16 de abril de 1974, e mora no Rio de Janeiro desde 2000. Em 1994, criou a revista de poesia Azougue, que se tornou uma editora em 2001. É autor de quatro livros de poesia: “Lábio dos afogados” (1999), “Horizonte de eventos” (2002), “O sonhador insone” (2006) e “Poemas atuais” (2012), reunidos no volume “O sonhador insone – poemas 1994-2012”. Organizou os livros “Nuvem Cigana – poesia e delírio no Rio dos anos 70” (2007), “Revistas de invenção – revistas de cultura no Brasil do modernismo ao século XXI” (2011), “Poesia.br” (10 volumes, 2013), além de volumes de Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Flávio de Carvalho, Vinicius de Moraes, Gary Snyder, Michael McClure, entre outros.
(
noite
quão fundo é seu leito?
(lâmina d’água
rio lamacento)
vejo suas estrelas
como agudas suturas
em relevo
(poeira de cores
no universo negro)
noite
por trás do
invisível contorno
de que é feito
seu leito?
(
noite
se não houve
o assombro
de uma criação
ex nihil
quem retirou
do caos
as possibilidades
o sopro e o
precipício?
quem a conheceu
ao lhe dar
um limite?
(
noite
é como o figo
via espessa
o avesso de flor
guardando para si
as sementes,
os segredos
(
)
noite
se a concebo
é como um momento
sem corpo
volume ou erre
que o definisse
mas momento
já que nos toca
e influi
feito a luz
que é o avesso
e não ausente
)
noite
não concebo
agente
ou engenho
e nem ao menos
o acaso
para mim
é solução –
insone
me perco
entre gaia ciência
(anima mundi)
e silêncio
)
noite
não substantivo
mas verbo
um star
que só vejo
(tudo vejo)
em tradução:
negra porcelana
enfeitiçada
pelo líquido bestiário
de suas constelações
)