.Tensão, Tesão & Criação

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João Henrique Vieira (PI) é produtor cultural independente, escritor e jornalista. Tem textos publicados em revistas e jornais literários. É idealizador e coordenador dos projetos “Tensão, Tesão & Criação” e “Tratamento Coletivo | Poesia”.

Fotos: Marília Saraiva / Luz Negra


UMA TRINCHEIRA DE RESISTÊNCIA DA POESIA CONTEMPORÂNEA EM TERESINA.

Teresina sempre foi afeita a rodas e saraus. Nossa história – por mais jovem e pouco lembrada que seja – nos conta que a poesia sempre foi dita, lida, cantada e gritada nestas terras de calor abundante. Somos de saraus, é um fato; mais que um verso. Gerações são feitas, refeitas e quando deixam de ser, se refazem. Assim, por longas datas, seguimos extravasando poesia em quintais, terreiros, salas e praças. Seguimos um rastro de lirismo que nos identifica e, quando queremos dizer-nos, fazemos poesia. Roda aqui não é apenas um ajuntamento de pessoas, mas um formato de liberdade e expressão. O projeto Tensão, Tesão & Criação se faz em roda porque herdou de outro projeto a inspiração de ocupar com poesia um espaço público no centro da cidade, de forma contínua, criando hábito e referência. Seguindo a centelha deixada pelo projeto Roda de Poesia & Tambores, do poeta, professor e pesquisador Elio Ferreira, que na primeira década do século 21, gritava versos com seu canibalismo poético no Clube dos Diários, Centro Histórico de Teresina. Ali se faziam (e continuavam) laços de novas gerações.

João Henrique Pimentel

A origem

O embrião do projeto, surgiu do sarau de mesmo nome, Tensão, Tesão & Criação, realizado dia 09 de janeiro de 2015, na Galeria Woodstock, zona norte da cidade (mais um daqueles espaços que eram bacanas, mas acabaram). Uma noite de expressão poético-tropicalista; extravaso em um espaço alternativo, amigo, que abriu portas para a poesia. Várias linguagens artísticas desaguando na poesia – instalação, performance, exposição e recital – um lampejo de liberdade, como deve ser um sarau. Daí, para o Centro Histórico da cidade, se reformulando e firmando-se como ponto de referência para poetas, artistas outros e aqueles que apreciam parar num fim de tarde e se permitir à poesia.

Desde o princípio, o projeto levantou o argumento e a missão de expressar e expandir a poesia contemporânea brasileira feita no Piauí. Abraçou a missão de realizar programações culturais poéticas como forma de revitalização e valorização de nosso Centro Histórico; de forma gregária e com programação gratuita, incentiva a formação de público e novos artistas, fomenta a economia criativa, comercialização e circulação de obras e publicações. O projeto ofereceu para a cidade um formato de política pública independente, coletiva, aberta, tendo a poesia como cerne criativo e propulsor.

João Henrique / Josy Brito / Demetrios Galvão / Gabriel Archanjo / Kilito Trindade / Rubervam du Nascimento / Karine Lima / Fabrício Santos / Lucas Rolim

 Um ponto de referência

A noção centro/periferia carrega uma relatividade singela e violenta. Quando a poesia volta a ocupar o Centro Histórico, com a melancolia grave do abandono, não significa chegar ao centro dos holofotes, mas reocupar um ponto de referência necessário. Da primeira edição, ainda em agosto de 2015, realizada no Clube dos Diários, ficou claro que o centro carecia da força, reflexão, potência, deboche e provocação que a poesia traz, desde muito tempo. De lá, migrou para o Espaço Cultural Trilhos, onde foram realizadas duas edições, sendo possível executar o conceito original do projeto – com sarau, performances, pocket show, feira e rodas de conversa com poetas contemporâneos piauienses.

O ano do golpe, 2016, foi de agregar poetas e colaboradores, formando um grupo – fluido e em movimento – de poetas, homens e mulheres, de idades e origens variadas, participando ou promovendo outras atividades poéticas pela cidade. Desse período, conta-se o Sarau da Casa, Sarau dos Angicos, Sarau Navilouca, entre outros. Encerrou-se o ano do golpe com uma edição do projeto na Praça Pedro II (local artística e poeticamente simbólico para nosso Centro Histórico). Seria um ensaio para a temporada de 2017, que viria a ser um divisor, uma noite que encorajou a firmar ponto e posição.

Durante uma temporada, o projeto Tensão, Tesão & Criação realizou sete edições mensais – de maio a novembro – abrigando artistas locais ou que passaram por nossa cidade. Programação com a adversidade e beleza de quem luta no campo do sensível. Uma trincheira necessária para resistir e existir com afeto e sensibilidade nestes tempos de brutalidade. Uma ação afirmativa para alcançar leitores, transcender públicos, revelar novos artistas, criar espaços e conexões para a poesia contemporânea brasileira feita no Piauí.

Brabos Cocais

Poesia contemporânea & resistência

A temporada 2017 do projeto Roda de Poesia Tensão, Tesão & Criação foi uma vitrine expansiva para a poesia contemporânea, como espaço de expressão, reflexão e valorização do Centro Histórico e da Praça Pedro II como espaços públicos coletivos.

O projeto tem proposto e conseguido se firmar como um ponto-ação de referência para a poesia feita no Piauí. Momento/espaço de expressar, conversar, comercializar ou fazer circular obras poéticas e literárias – o que não deixa de ser uma resistência, uma construção histórica, material e imaterial. Com a feira literária e artística, cria-se uma vitrine para nossa produção, ao passo que fomenta a economia criativa e a interação direta dos autores com seus públicos.

Em nosso contexto local e atual, pode-se dizer, sem medo, que a poesia tem contribuído para que praça seja praça de novo. Espaço não apenas de ouvir, mas de falar, de se expressar com liberdade. Soltar a palavra abraçada a sonoridades, performar. Um encontro de gerações variadas unidas pela mesma razão. Fazer da poesia – muitas vezes um exercício solitário – um instante de êxtase coletivo, artístico, social e afetivo.

O conceito tropicalista do projeto é o próprio processo criativo – transformando angústias e belezas em pulsação. Fixado na praça e lutando por seu espaço público, a poesia e os poetas, homens e mulheres, têm se reunido em rodas onde a poesia.

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