Poemas de Max Blecher (Romênia, 1909-1938)

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Tradução de Fernando Klabin

FERNANDO KLABIN | SP Nasceu em São Paulo e se formou em Ciência Política pela Universidade de Bucareste, onde residiu por 16 anos. Hoje reside em Viena, é tradutor e, em 2016, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural da Romênia no grau de Oficial. Entre suas traduções publicadas, destacam-se: Nostalgia, de Mircea Cartarescu (Mundaréu, 2018); Uma Outra Juventude, de Mircea Eliade (Editora 34, 2016); Corpo Transparente, de Max Blecher (Benfazeja, 2016); Corações cicatrizados, de Max Blecher (Carambaia, 2016); Acontecimentos na irrealidade imediata, de Max Blecher (Cosac Naify, 2013); Nos cumes do desespero, de Emil Cioran (Hedra, 2012); A barca de Caronte, de Lucian Blaga (É Realizações, 2012); Senhorita Christina, de Mircea Eliade (Alaúde, 2011); O grande livro dos mitos gregos, de Robert Graves (Ediouro, 2008); Os Khazares: A 13a tribo e as origens do Judaísmo moderno, de Arthur Koestler (Relume Dumará, 2005); Seis doenças do espírito contemporâneo, de Constantin Noica (Record, 1999).


MATERIALIZARI

De-ar fi să-mi lase ziua o piatră într-o cutie
Şi-un fluture de aur pe geam ca un vitraliu
De-ar fi să-mi lase noaptea o mână de cristale
Din ţurţurii de febră, – din visuri o păpuşă
De-ar fi să am obiecte ce-n inimă au viaţă
Şi gânduri în mătase şi amintiri în sticlă
Din vizitele tale aş vrea brăţări de sânge
Colierul unui zâmbet şi-inelul unei clipe.

MATERIALIZAÇÕES

Pudera o dia me deixar numa caixinha uma pedra
E na janela uma borboleta de ouro como um vitral
Pudera a noite me deixar um punhado de cristais
Feitos de estalactites de febre – e uma boneca feita de sonhos
Pudera eu ter objetos que ganhassem vida no coração
Pensamentos na seda e lembranças no vidro
Das tuas visitas eu quisera pulseiras de sangue
O colar de um sorriso e o anel de um instante.


PLIMBARE MARINA

Lui I. Ludo
Sângele mării circulă roşu în coralii
Inima profundă a apei îmi vâjâie-n urechi
Sunt în fundul cerului de valuri
În pivniţa apelor adânci
În lumina omorâtă a funebrei sticle
Peşti mici ca jucării de platină
Parcurg păru-mi care flutură
Peşti mari ca turme de câini
Sug repede apele. Sunt singur
Ridic mâna şi constat greutatea ei lichidă
Mă gândesc la o roată dinţată, la un palmier
Zadarnic încerc să fluier
Parcă străbat masa unei melancolii
Şi parcă totdeauna a fost aşa
Pe jumătate frumos şi pe jumătate trist

PASSEIO MARINHO

Para I. Ludo
O sangue do mar circula rubro pelos corais
O coração profundo da água reverbera no meu ouvido
Estou no fundo do céu de ondas
No porão de águas oceânicas
À luz mortiça do fúnebre vidro
Peixinhos percorrem como brinquedos de platina
Meus cabelos que tremulam
Peixes grandes como matilhas
Ávidos sorvem as águas. Estou só
Ergo a mão e constato seu peso líquido
Penso numa engrenagem, numa palmeira
Em vão procuro assobiar
Pareço atravessar uma melancolia espessa
E parece que sempre foi assim
Metade bonito e metade triste


POEM GROTESC

Lui René Wauquier
I
Soldatul verde care locuieşte în lună îmi trimite pe un fir de salivă câteodată o portocală, câteodată o frunză de pătrunjel (păr smuls din barba-verde) şi câteodată ceasul lui cu cifre fosforescente. Ceasul cade în fundul mării şi bate atât de sălbatec încât sparge valurile (pânzele corăbiilor plesnesc ca pocnitorile).

Copiii, după amiază, jucându-se cu smeul ţin în mână un fir de salivă pe lungul căruia soldatul nu le trimite nimic, nici viezuri nici smochine uscate.

II
Pe un gramofon de apă notele plouă după cum heruvimii făinii cântă din trompete de făină în timp ce elefantul meu şi-a încurcat trompa într-o spirală fără sfârşit fără punct şi fără virgulă fereastra s-a desfăcut din zid şi a plecat în lume drum bun căci iată desenez altă fereastră.

POEMA GROTESCO

Para René Wauquier
I
O soldado verde que mora na lua me manda por um fio de saliva ora uma laranja, ora uma folha de salsa (chumaço de pêlo arrancado à barba verde), ora seu próprio relógio de cifras fosforescentes. O relógio cai no fundo do mar e bate com uma selvageria de quebrar ondas (as velas dos navios estouram como espoletas).

À tarde, enquanto brincam de empinar pipa, as mãos das crianças seguram um fio de saliva pelo qual o soldado não lhes manda nada – nem texugos, nem figos secos.

II
Num gramofone d’água as notas chovem ao som de trombetas de farinha dos querubins da farinha enquanto a tromba do meu elefante se emaranhou numa espiral sem fim sem ponto e sem vírgula a janela se soltou da parede e ganhou o mundo boa viagem pois eis que desenho outra janela.

1 comentário em “Poemas de Max Blecher (Romênia, 1909-1938)”

  1. Muito bom saber, q temos brasileiros intelectuais, escritores ,tradutores,acima de tudo amantes da literatura como Fernando Klabin representando o Brasil no mundo

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