ANNA APOLINÁRIO (1986). Nascida no ano do Tigre, sob o signo de Leão, em João Pessoa, PB. Escritora, poeta e feminista, alquimista da palavra, inventa livros e incendeia o patriarcado com o “Sarau Selváticas”. Bruxa, grafa grimórios carnívoros em galáxias oníricas, gosta de sussurrar alucinações dentro de poemas. Livros mais recentes publicados: Magmáticas Medusas (2018) e A Chave Selvagem do Sonho (2020).
Os poemas fazem parte do livro Furor de Máscaras ( Arc/Cintra Edições, 2021) disponível em Ebook Kindle pela Amazon.
BÓREAS
As cadeiras voam por toda a sala
Os pontos cardeais da eternidade respiram
Através de minha plumagem mágica
Mesas mastigam os ponteiros dos relógios
Sombras atiram destinos pelas janelas
Minhas garras gotejam tempo
HOLOGRAMA XAMÂNICO
Um milagre após outro, o vento dilacera o tempo
Os arquipélagos golfam sangue
Minha voz abre redemoinhos de mel no enxame mundano
As máscaras de Circe brilham no centro da floresta
A noite reverdece suada de seus músculos
Mil ventres suspiram beijos de abracadabra
RITUAL
Passei uma risca no dorso da fábula
E fiz sangrar os catecismos da vertigem
Agora caminho despida
Cambaleante, lambuzada e convulsiva
Rasante, engoli tuas páginas santas
SANTUÁRIO DE ANGÚSTIAS
A luz em teu olhar desperta os enigmáticos chacras da existência
A sutileza de tuas confissões desperta incêndios em meus cílios
Rabiscas minha garganta com as sílabas da Sibila
Mamilos adormecem naufragados em tua boca
Os teus espelhos rodopiam em meus pulmões
Como estancar a sangria de tua sombra a meus pés?
O furor de Cronos furtou nossos destinos
Como ser o abrigo para a loucura de teus crimes?
O perfume entre meus seios abre fissuras na face de Deus
O BARALHO DELIRA NAS MÃOS DA BRUXA
Um lustre afoito contava os passos da escuridão
Pianos soletravam sonetos secretamente, esvaindo estrelas
Uma interminável melodia nutrindo todas as minhas fogueiras
As tuas fábulas reviram o tabuleiro, a noite titubeia
Eu sou a mulher que mordeu as mãos do Impossível