2 Poemas de Marcia Kambeba

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Márcia Weyna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba no Alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém /PA e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas.

Escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista. É autora do livro de poemas “Ay Kakyri Tama – Eu Moro na Cidade” (Ed Pólem, 2018).

 

Silêncio Guerreiro


No território indígena
O silêncio é sabedoria milenar
Aprendemos com os mais velhos
A ouvir, mais que falar.

No silêncio da minha flecha
Resisti, não fui vencido
Fiz do silêncio a minha arma
Pra lutar contra o inimigo.

Silêncio é preciso,
Para ouvir o coração,
A voz da natureza
O choro do nosso chão.

O canto da mãe d’água
Que na dança com o vento
Pede que a respeite
Pois é fonte de sustento.

É preciso silenciar
Para pensar na solução
De frear o homem branco
E defender o nosso lar
Fonte de vida e beleza
Para nós, para a nação!

 

Tana Kumuera Ymimiua
(nosso língua ancestral)

 

Não se pode dizer que os Kambeba
Esqueceram a língua Tupi
Ainda existem falantes
Que não a deixam sumir
No ensinamento dos que sabem
Memorizo o que aprendi.

Kumiça yuria! Kumiça ypaçu!
(Fala, mata! Fala, lago!)

May-tini na sua grandeza
Por não conseguir entender
Viu nossa fala com estranheza
Português fez o povo aprender.

Mas os Kambeba com esperteza
Ensinavam em segredo
Superando o que seria
O fantasma do seu medo.

A língua não é determinante
Para se poder dizer
Que um indígena não é Kambeba
Por não saber escrever
Na língua do seu povo
A afirmação está no seu ser.


(tradução:
May-tini – homem branco)

 

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