3 Poemas de Valeska Torres

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Valeska Torres é poeta, escritora, performer e estudante de Biblioteconomia pela UNIRIO. Nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1996. É autora do livro O coice da égua (Editora 7Letras, 2019). É idealizadora e apresentadora do podcast Garganta! disponível nas plataformas do Spotify, Megafono e Deezer. Seu conto Conceição foi narrado por Elisa Lucinda no podcast Águas de Kalunga realizado pelo Museu de Arte do Rio. Publicou nas coletâneas de poemas, contos e crônicas Do Rio ao mar (Turista Aprendiz, 2015), na antologia Seis temas à procura de um poema (Flup, 2017), na antologia Alma – Projeto Identidade (Editora Conexão 7, 2018). Tem poemas publicados em fanzines no Brasil, Argentina e Paraguai e em plataformas digitais, como: Mulheres Que Escrevem, Escamandro, Macabéa Edições, Ruído Manifesto, Periferias, Lavoura, Garupa, Gueto e Mallarmargens. Em 2017, foi selecionada para a Residência no Festival Internacional de Poesia de Rosário na Argentina e no mesmo ano recebeu menção honrosa por sua participação no V Concurso Literário Professor Arnaldo Niskier com a crônica Marlene.


INDOMÁVEL

Eram três canhões de cimento estacionados
na via expressa
sob os cirros cinzas que cruzavam a América do Sul.

Eram barris de pólvora. Eram sapatos enlameados.
Eram as suásticas estampadas nos peitos;
a selagem da égua indomável.

Na curvatura da coluna,
mais próxima a testa ficava do chão.

Catávamos hinos da boca do outro,
sem saber que o outro é ruína também.

Os rodos que limpavam a cidade,
eram das mesmas mãos que soltavam granadas.
Batíamos continência,
onde antes fora ringue de galo.

(((((((((((Campo minado))))))))))

[dentro:
um cachote virado ao avesso
donde sai um cão imundo
fede.]

]fora:
a cera empapando o cotonete
de marrom
cor de absorvente sujo do últimos dias.[

A justiça sob os olhos deles,
seguros de que a vida,
agora extinta,
lambia a lâmina do coronel
quatro estrelas detrás,
o vidro fumê,
o estreitar das tardes, o mesmo sol abóbora
das épocas sangrentas.


MIJADA

a rolha explode contra a minha testa
de calcinha bege clara mijo escorre entre as minhas pernas
o liquido amarelo metálico: uma mulher suja.
nas tentativas em segredo, enfio os meus dedos entre
a goela quando eu,
enfiaria entre os lábios da minha buceta se me fosse permitido gozar,
se me fosse permitido …………………………..

uma penca de banana com granola,
arrebenta
o zíper da minha calça quando devoro uma penca de banana com granola, comendo banana (baixinho para que ninguém ouça minha língua empapada de saliva)

tenho vergonha de ser uma mulher suja e que gosta de comer bananas pelos cantos
mastigando baixinho fazendo papa debaixo da língua
não quero que ninguém me veja
que ninguém me ouça

comendo na poltrona puída do caxias x méier
nem que me perguntem porque mijo nas calças quando uma rolha explode contra a minha testa
não quero que vejam meus pêlos debaixo do sovaco que raspo
todososdiastodososdias
raspo os pelos dos meus sovacos
sem nenhum rito
sem nenhuma falha
limpo os pelos feios e sujos da mulher suja que sou.


REINO DOS BICHOS E DOS ANIMAIS NÃO É O MEU NOME

para Stella do Patrocínio

ouço o chacoalho zunindo no meu ouvido
o barulho da cisterna
tampada com uma espessura de sete cm de concreto

quando perto,
penso em afogamentos em sufocos claustrofobia

por desencargo
pego ratazanas pelo rabo que se contorcem
como as contorcionistas no circo
afogo-as devagarinho até que o chiar borre a água de vermelho escuro
são essas as cores do arco íris

piso em besouros esmigalho cada couraça que usa para se defender
já rendido
coloco entre dedos a gosma verde esmeralda tão bonita

joaninhas inchadas nem todas vermelhas com pintinhas pretas
pressiono contra o mármore com o mindinho

havia uma barata entre meus lençóis quando criança
dessas cascudas que só se encontra no mato
rastejou até o meu ouvido
zunindo coisas que só no reino dos bichos se podem ouvir

“não quero” disse abafando o travesseiro contra o inseto

desde o assassinato
recebo os bichos para executa-los

me dizem fofocas
esgueirando-se na mortadela na comida estragada
as patinhas miúdas fungando a merda
o reino dos bichos e dos animais não é o meu nome

mosca parruda que posa na manga
jorrando o verme
seu filhinhos miúdos espeto na grelha
labareda lambendo as asas finas
o corpo mole

nas autópsias que fiz
rasguei de uma só vez os colhões dos bichos
sussurrei a profana das mulheres

o maçarico
queima queima queima
o torresmo que como nessa manhã.

reino dos bichos e animais é o meu nome

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