Publicada em 9 revistas digitais ao longo de dois anos e meio, tais como Ruído Manifesto, Mallarmargens e Aboio, Lorraine Ramos Assis, em seus 24 anos, é uma artesã do caos. É estudante de Sociologia, na UFF. Integrou a antologia Ruínas, da editora Patuá. Concedeu duas entrevistas no canal “como eu escrevo”.
Meu nome não é Anne
encontrei na seção os fios esbranquiçados
cuja linha esmaecida de libélulas
se distribui com porções
cujo recinto remoto
de pasta em pasta adensa caligrafias
inclinam-se antecipações nas oblíquas palmas cilíndricas
e as olheiras da mata apontam ao numérico fronte onde a
espinha dorsal, estância da capacidade de regenerar
enuncia degraus descendentes tal qual mostruário em crise
a matéria da sensibilização sintática
a mão, o olho
objetos em fetiche transcorrendo sequências de inventividade fora do lugar-comum
tingem o volúvel
cabelo marrom-claro em retículas não mais espaçadas
sujeito inscrito
a quem não conheciam sem fibra debatida em nó
eles matutam como dia praguejado tal como silêncio em intempestiva negação
Deposição
Neste verso, apenas o rabisco
Circundando o marco geral das ações – inteligível
Gravitam as consciências concretas em suas falas, gestos, particular bocejo irritadiço e olhar intrépido ainda acordado na cama de emaranhados da manta cor de blueberry.
E é isso! já teve seu entretenimento se fazendo de um objeto inanimado, constelando a partir de depressões fugitivas do frio que assola a rua o escarcéu de mentes em assepsia.
Nada mais no anseio de discutir, e poliamida de lingeries no espaço ausente, subindo e descendo com as mãos do café graúdo emprestando ao estômago o amargo, e o olhar, e a visita esperando a porta ser atendida, e a vida sendo interrompida por um prato de comida despedaçado na madeira perto dos calcanhares: apenas um rabisco, somente um frívolo rabisco de tudo que nada pode ser dito em voz alta
conforto-me na porta ao lado, arranhada com palavrões
sem reducionismo
Estatutos nas paredes
Buenos aires e brasil são como subcontinentes
Do estatuto simbólico das funções parentais
Lacunas de fugas de minha mãe com um rosto reconhecível apenas por
Escitalopram
Hotel dos corredores esperam por meu provedor
Os cabelos louros e lisos são como a faixa demográfica etária que me retém
Agora
No mesmo dilema moral
São de ti? Te pertence?
Não deixe machucar-se novamente, dizia o homem argentino
No jaleco branco com mambas pretas
O circuito pulsional resgatava-lhe as lágrimas, raiva e impotência
Concluir que as impotências perante ao outro são como a resiliência
Mas não como a evocação de um ato não defensivo proporcional
No corredor as paredes são finas
As cidades extraconjugais são para os não covardes
Mamãe, papai
Aprendi a pegar a mamba preta
Proporcionalmente
Do que vale ao que me pertence
Bem vindos ao anagrama do santo lago de buenos aires
Machuca
Padre Córdova, perdoe-me, já que
[já que
os jardins percorridos das províncias, dias ligados ao renascimento, do outono o capacete pegou na garganta dela. O quepe transmutando-se em outro tecido do colo em cólera. perdoe-me na ênfase não concentrada das fumaças nos estuques, nas madeiras, nos rios e no tijolo adornado. Nesse dia pensei:
o começo do fim – o abrigo das vilelas da cidade aglomerada que um dia traçamos como vândalos sem talentos, e a gandola gritando próxima à coluna vertebral. Em um segundo tudo para. O jardim se recolhe como os pés trilhados em largadas para um espaço no qual era, inicialmente, concebido como sagrado.
e refúgio.
Será uma falha ter tido meus cadarços esfumaçados no monte de gente lembrando-me o nominal, O Grande, “Monte Roraima”, o livre espaço das grutas? – grutas essas intrinsecamente artificiais como seu sorriso de culpa romanesca?
Será que meu pai, padre, viu a américa hispânica como um novo local, sendo o jardineiro recolhendo as impurezas pululando em nossas cabeças? O instante acumulativo. A virada do canivete sublingual do qual cortei as flores, mas ainda as deixei requintadas, como você bem gosta.
Padre Córdova, eis a explicação:
o mistério me rodeia como um contra ataque de plantas carnívoras na primavera. Recortes do tempo em que grutas foram criptas, e não somente locais da fantasia e folias desvairadas.
Uma mão tocando a pele, sufocando-a.
Senhor Córdova, o que vai ser dos olhos que nunca mais esquecem o que viram?
– imploro
o que será de mim se a gruta serviu para os capacetes que tombei?