5 Poemas de Flavia Ferrari (São Paulo, 1976)

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Flavia Ferrari (São Paulo, 1976). Poeta e professora da rede pública de São Paulo, Flavia Ferrari tem dois livros de poesia publicados, Meio-Fio: Poemas de Passagem (2021) e É Tudo Ficção (2022). A autora escreve desde a adolescência, mas começou a publicar seus poemas no início de 2020, compartilhando seu trabalho nas redes sociais, participando de antologias e contribuindo com revistas literárias digitais. Desde o princípio, os seus poemas foram muito bem recebidos pelas leitoras e leitores.


DEPOIS DA CHUVA

A minha alma lavada
repousa em um varal
de corda bamba
em que o peso e o acúmulo
de águas passadas
tocam o solo
enquanto o vento se funde
à substância
e leva…


FRESTAS

Há frestas por onde o sangue aflora
e o excesso escorre
e que cicatrizam

Há frestas que revelam
fragilidade
e uma ruptura iminente

Há frestas que acusam
um passado negligente
futuro incerto

Há frestas que orientam
que contam histórias
e aguentam

Há frestas que não cicatrizam
endurecidas
por onde só passa o ar
imperceptível

Há frestas invisíveis
que só se mostram na claridade
e somem quando chegam as sombras

Há frestas por onde brotam
elementos vivos
quando já não mais acreditamos
e resistem


ATRAVÉS

Equilibrando-se no abismo
A queda é possível
Mas é mais provável
Que sigamos agarrados à corda
Que dança sobre nossas cabeças
Amarrada entre dois extremos
Que se mantém firmes
Não cedem
Não se deslocam
E não se desmancham

Entretanto
Se tirássemos os olhos do que nos sustenta
Talvez vislumbrássemos um tombo
Compatível com a vida
Mas para isso
Precisaríamos olhar na direção
Do que é invisível
Bem abaixo dos nossos pés


ANUNCIAÇÃO

Não é possível olhar o alto
Se o ar ao redor está todo preenchido

O espaço pode ser este lugar sufocante
Nomeado
Mas não reconhecido

Não é fácil perceber o gosto
Se o que nos cabe é um pedaço ressequido
Sem a presença de um todo
Que nos faça acreditar

Não é prudente adormecer no caminho
Precisamos chegar e registrar o nome
Para que haja uma verdade momentânea
Da partida
Do motivo
Da carne viva

Não é comum os sons perderem a validade
Música esta que canta este tempo
Em que à memória parece ruído

Não é errado esconder-se
Da figura insana
Do momento não aguardado
Da convocação que não admite recusa

Mas não é prudente ausentarmo-nos
Todos os nossos sentidos são necessários
Mesmo que não haja espaço
Nem esperança
Nenhum movimento

Mesmo sem a tua companhia
Com a qual era fácil conseguir encontrar


SOMBRAS

A sombra que está fora de mim
Desaparece
No sol poente
Na tempestade
Quando anoitece

A sombra que está dentro de mim
Desperta
Na lembrança insistente
No medo sem nome
E sempre quando anoitece

2 comentários em “5 Poemas de Flavia Ferrari (São Paulo, 1976)”

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