Marcos Samuel Costa da Conceição nasceu em 1994 em Ponta de Pedras, Ilha de Marajó (Pará). É de origem ribeirinha. Graduou-se em Serviço Social na UFPA, licenciatura em História (Unilins), mestrando em Antropologia PPGA-UFPA. Sua obra inclui poemas, contos, romances e literatura infantil. Foi finalista do Prêmio Mix Literário em 2021 e em 2023. Além disso, venceu o Prêmio Dalcidio Jurandir 2019 e o Prêmio Uirapuru de literatura 2021.
Museu de arte do Rio de Janeiro
Para Sylvia Amanda
Encontrar em coleções
essa grande tristeza
álbuns e telas riscadas
a ganância de mapear
os sinais dos que acordam
colecionam os desastres
do mundo
Museu de arte do Rio de Janeiro II
Para Douglas de Oliveira
Vastos olhares: mapeiam
o sinal da tinta seca
da presença morta dos sonhos
um caminho de pedras
descalço se vacila
o único mapa para possíveis
catástrofe foi roubado
Santo-deus menino de barro
para os rios da minha infância
1
Haverá a tarde
sem lamentos
as orações que
brilham nas folhas
do buritizeiro
marítimas luzes
do sol ou da lágrima
no santo de barro
na casa de sonhos
2
dorme depois
sem-vento
dorme
aqui dentro
encontra a paz
diz a mulher para
o santo menino
deus
Pássaro
Para Orides Fontela
1
O passado
pássaro sono e
luto, investimento
No silêncio
2
Antes do pássaro
o passado era
queda e cicatriz
3
O luto faz ninho
no meu
sistema nervoso, penso
sou temporário
4
O corpo abraça o luto
o passado o pássaro
arames lembram
os limites
Diário de Emily Dickinson
os lírios brancos
na balança
do amor incerto
mundo inválido
calmamente morre
junto as plantas
ao verão no passado
os lírios na terra
são deuses
querendo adoradores
em seu diário
Emily anota: “tudo que perde
o folego não adora ao
senhor”.
A voz que corta a dor
Para Carlos Orfeu
A voz do machado
quer reencontrar as raízes
das árvores
a lâmina crua, vida amarga
sonha com a voz
da madeira tombada
no café da manhã
com ovos fritos
e os gatos chorando
por comida
na emergência psiquiátrica
apenas meu corpo
é consultado
