6 Poemas de Renata de Castro

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Renata de Castro nasceu no Rio de Janeiro, em 1979, mas vive em Aracaju, Sergipe, há mais de 30 anos. Professora de Língua Portuguesa e Francesa, mestre em Linguística, atualmente doutoranda em Literatura na UFS e colunista na revista virtual Vício Velho, com a coluna Sibila, dedicada à autoria feminina. Tem três livros publicados: O terceiro quarto (Ed. Benfazeja, 2017), Hystéra (Ed. Escaleras, 2018) e De quando estive em Alto-Mar: poemas de afogamento e algumas mortes felizes (Ed. Escaleras, 2021). Teve alguns de seus poemas publicados em revistas virtuais, como na Crioula USP (2011); em uma edição especial da Gueto (2017), em diferentes edições da Barbante (2017 e 2018), na Vício Velho (2019) e na Acrobata (2020). Fez parte de algumas antologias: Antologia Poética Senhoras Obscenas (Ed. Benfazeja, 2016), Antologia Poética Damas entre Verdes (Selo Senhoras Obscenas, 2017), Antologia Poética Senhoras Obscenas (Ed. Patuá, 2019), sendo a antologia bilíngue de poesia contemporânea de escritoras brasileiras e cubanas Sem mordaça. Sin mordaza (2021) a mais recente.
E-mail: [email protected]. Instagram: @renatadecastro_


Dono do Discurso

dono do discurso
diz meu verbo ser complexo
mas sei a linguagem que domina,
a Primitiva
Certa vez me disse:
“Meu caso é com a selvageria!”

só usa silogismos
nas suas perigosas armadilhas
discursivas estratégias
para deleite da outra língua.


Tortuoso é o Desejo

Tortuoso é o desejo
Que saliva meus lábios
Ao sabor da maré
Fluindo em ondas
Vaza pelas bordas

Viscoso é o desejo
Que umedecia teus dedos
Urgia o gemido contido
Urgia o esvair-se em líquido
No ritmo do desespero

Perigoso é o desejo
Que como água
Alimenta a si mesmo
Evapora e chove
Encharca e escorre


Olhos de Rato

Dos cantos
Das quinas
                         pressente-me a vibração
                         percebe-me o cheiro

Um rato
                          em sua toca quente

São olhos de rato
                          – os seus
Fascinados com a presa
                           – que resiste

Gatuno

Sou eu
                           o furto
                           o fruto
                           – roído

Faz em mim
                           romper
o cio das ratuínas
e de mim
                           rebentar
dezenas de pares
                           de olhos seus
                           olhos de rato
                           – Fascinantes


Nome

Gosto da fome
com que me come
E do desespero
com que me devora
E como no meu corpo
goza
do meu corpo
goza
com meu corpo
goza

Gosto da sua boca sôfrega
Perdida na minha
língua trôpega
Numa dança descompassada

Não diga que estou errada
que em sua direção
meu passo é curto
Se dou dois para trás
é porque já todos
meus sentidos consome

Vê:
meu surto
tem seu nome


Ao Sabor da Maré

sobe a maré
quase ilhada,
já sei:
nenhuma fuga seca
é possível
nenhum esboço de caminho
a cada passo
mais pesados
meus pés marcados
pelo afogamento temo,
mas sigo
Mato-me ou vivo?


Mar e Som

Do teu nome emergem
Mar e Som

Marulham nas águas
do meu corpo as ondas
da tua rebentação
Meus olhos mareados
encontram sempre a ressaca
dos teus transbordantes
                – quando estamos em Alto-Mar
                e tudo é infinito horizonte
                de maresia e nossos ais

Teu nome
de Mar e Som
imerso imenso
em meu oceano de silêncio
e turbulências abissais

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