Maíra Vasconcelos – nasceu em Belo Horizonte, onde estudou jornalismo. Há alguns anos mora em Buenos Aires. É autora de Um quarto que fala (Urutau, 2018) e da plaquete O livro dos outros – poemas dedicados à leitura (Ofícios Terrestres, 2021). Sua última publicação de poemas, Algumas ideias para filmes de terror (Editora 7Letras, 2022). Escreve sobre política argentina no Jornal GGN.
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no jardim ela espia a vida
de perto das folhagens
mesmo que ainda protegida
daqui também há de se sair
*
o cansaço deve perder suas batalhas
então
arremessou longe a pedra
correu para buscá-la
brincava de si mesma
corria atrás do que já não será
*
achei no chão
um par de olhos
lustrei com um paninho
era de um animal
talvez uma vaca
ou um pássaro
poderia ser de um sapo
já pouco distinguimos
esses restos
deixados pelo caminho
*
longe de mim
dizer que estamos
todos no mesmo barco
e ainda dizer a ordem de afogamento
e que até os bichinhos do barco
até os bichinhos
*
leve como um boxeador peso pluma
plainava solto no ar
ia e vinha sobre a mesa
bicava os papéis, rápido
enganava ao se aproximar
quase impossível segui-lo com os olhos
assim o beija-flor fugia em desatino:
ele sabe que poderá ser o próximo
*
recolher a vida
de cada lugar
como o vento que nos trouxe
até aqui
