Tradução por Ana Vrăjitoru* é professora-conferencista universitária, linguista, tradutora.
Cassian Maria Spiridon (n. 9 de Abril, 1950, Iassy, Roménia) é poeta, ensaista, diretor da revista Conversações Literárias, diretor fundador da revista Poesia e presidente da União dos Escritores de Roménia, filial de Iassy. Desde o volume de debute Partindo de zero (1985) e até Cento e um poemas, antologia editada pela Academia Romena, publicou um número impressionante de livros de poemas, ensaios e jornalismo. Tem aparecido em várias antologias do país e de estranjeiro e é traduzido em 20 línguas. É publicado em todas as revistas mais importantas do pais. Foi recompensado várias vezes com o prémio USR e outras distinções. Tem participado em vários festivais nacionais e internacionais de poesia (em Colômbia, Bélgica, França, O Encontro dos Poețas do Mundo Latino, México, Cuba e outros). Com a ocasião de conferir-lhe o Premio Internacional de Poesia Li Bai și Du Fu do ano 2018, em China, o júri caracteriza-o assim: „Cassian Maria Spiridon é um poeta notável. A divinidade, a consciência, o espírito de liberdade e uma attitude de exploração representam não só a força motriz da sua poesia, mas também as suas permanentes temas poéticas. Os seus poemas são concisos, sinceros, fermes, cheios de tensão interior, com diálogos profundos entre alma e corpo, entre homem e o mundo com qual relaciona.”
não querem mais
não cai mais estrela nenhuma
todas ficam fixadas no firmamento
para sempre
esqueceram-se de nós
em tempos, elas
desciam por entre nuvens
em flamas
para nos ver
como olhamos
de mãos dadas
unidos corações
para a passagem delas
por entre camadas densas
onde guarda o planeta
o seu oceano azul de céu
sim
eles não querem mais
que os nossos olhos vejam
a extinção delas
(são aves fatigadas)
são aves fatigadas
de voo
planando
descem para o descanço
ao redor
de tantas chuvas
está tudo vestido de verde
como a folha fresca de oliveira
o amor também
põe com brandura a sua cabeça
no braço da noite
alto
uma longa espera
fecha a lenta pálpebra
sobre os sonhos
muitos esmagados pelos tristes tormentos
que se acumulam
ao mesmo tempo que os anos
se insinuam como o fumo
na água da alvorada
(linda é esta manhã)
linda é esta manhã
quando o Sol se avergonha
de tanto esplendor
que se oferece aos vivos
ainda vivos
não menos aos adormecidos
para a alegria do ressuscitar
uma manhã oferecida às joaninhas
àqueles que chilram
mas também às feras
às quais pelo seu rugido
assustam a floresta
uma manhã cintilante
linda para quem tem olhos
e coração prestes a bater para a aurora
que se espalha na madrugada
sobre as sombras da noite
de garganta de púrpura
das núvens
uma manhã singular
entre tantos encontros matinais
passa suavemente
como os grãos de orvalho
sob a pressão da luz
cai como uma namorada
nos braços ardentes
uma manhã
rolada
como tantas
pela névoa do esquecimento
que vai nos acompanhar
somente por estes versos
ainda mais
mais um banal conto
onde um ele e uma ela
amavam-se
como se fosse ontem nas águas do mar
ondas – uma multidão –
abraçavam
o teu corpo
o meu corpo
como se fosse ontem
ou amanhã
andavam pelas clareiras
por entre altas silhuetas
de árvores
vem
vem ver o sol
por entre folhas e ramos
como se infiltra
no tempo quando fatigado esconde-se
devagar devagar
atrás das colinas
vem ver-me
o coração
amor da minha vida
como bate
com medida
na abóboda selénico
abrigada pelo teu peito
não tenha medo
os dias e as noites
ainda são nossos
como as estrelas são para o céu
alto brilho
de mãos dadas
asas sobre asas
eleva-nos
sobre uma terra
com armadura de ouro
tu
vento de Outono
eleva-nos
até úmidas de lágrimas
constelações
um encantamento que tem juntos
unidos peitos
já foi
já foi a juventude como um sonho
que
ao despertar
contar não sei
e quase nada conseguimos
lembrar
embora uma loira trança
ainda é testemunho
do primeiro amor
já foi a juventude inteira
como se nunca fosse
rebelde
com cabelo negro
rico atingindo as espaldas
marchava
confidente na estrela da sorte
do cume da colina
a enfrentar o mundo
e abraçar os seus espinhos
não importa quão profundo fosse
o sangramento
será que se fosse jovem pergunto-me
com uma amada loira
da coração princessa
presta
pela quanta vez
salvar a minha alma
de múltiples descaminhos
a juventude como se não fosse
pergunto-me
não sem admiração
se verdadeiramente sou
aquele que
é perseguido
pelas imagens
daquele tempo
fiéis
infiéis
(entras na célula)
entras na célula
listrado como um tigre
um condenado
entre alguns outros
são poucos os lutadores
quando o terror é rei
listrado como a ferra
que não conhece o medo
amando muito acima da vida
a sua liberdade
anormal agora é colocar
grades de ferro entre almas e céu
é só isso que quiseste
defender
quardar um direito
para o bem
justificado
solto movimento
de coração e mente
que não conhecem
de nenhum modo
alguma sombra
de limtação
preparada é a bala
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*Ana Vrăjitoru é professora-conferencista universitária, linguista, tradutora e membro da União dos Escritores de Roménia, a secção dos tradutores. Ensinou na “Universidade Al. I. Cuza” de Iassy e na “Universidade Lisboa”, Portugal. Poublicou manuais de Língua Romena para estranjeiros, Dicionário Romeno-Árabe, mais de 150 artigos e estudos de linguística aplicada, comparada e contrastiva, traduções de poesia e prosa de Português e Árabe para Romeno.
Magnífico, Demetrios. Abraxas