3 Poemas de Erick Rafael Arévalo (El Salvador, 1989)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Erick Rafael Arévalo (San Salvador, 1989) estudante da Universidad de El Salvador. Membro fundador do Círculo Literário TecoloT, membro fundador do THT e do coletivo comunitário Malas Letras, integra a equipe coordenadora do Festival Internacional de Poesia ‘‘Amada Libertad’. Publicou “Transfiguraciones” (Alkimia Books, 2020) em revistas literárias e antologias da Universidad de El Salvador, participou de várias leituras de poesia.


ÚLTIMA DOSE

Para Jesse Pinkman


Escorre a última gota em um desvio de aço inoxidável,
Se incorpora à estrada principal,
direto para a miséria de Albuquerque.

Rachada a pele é quando o universo se expande no azul das minhas pupilas
quando toda a torrente recorre a profecia de minha mãe,
sou uma colheita perdida.
Nada importa mais do que a adoração das minhas costas na cama
e o abraço de quem canta comigo a cada mililitro
como conseguem com dor lavrada nas entranhas.

Reconheço esse cheiro de morte,
sei que ao meu lado um corpo não verá mais noites
mas nas minhas noites sempre verei esse corpo.
Não vá,
não deixe à deriva esta tela sem pintar.

Sinto que as arcadas expulsam sua alma.
Meu corpo, uma tabuleta onde guardarei este momento.

No verso das minhas pálpebras escondo uma oração,
repito baixinho antes de abrir os olhos:
Que foi um pesadelo“.

Insônia maldita, desculpe, Sr. Margolis, desculpe.
Mas ela nunca suportou o horror de atender às expectativas.
Insônia maldita, insônia maldita.

Essa angústia de ver o que eu amo morrer
espero que seja apagada
e me devolvam a esperança
antes de ouvir o toque da chamada.


NOITE DOS ANÔNIMOS

Por cima do meu telhado passa um caminhão, quebrando o silêncio da noite;
é a hora em que a cidade grita por ajuda
e anjos são violados por vagabundos
                                        atraídos pelo afrodisíaco cheiro de cola.

Este é o meu melancólico nirvana
marinado com a tristeza de todos os anônimos,
dos filhos que sobrevivem ao aborto de sua pátria
em invernos de álcool para acalmar o frio
                                      e foram traídos por um beijo do concreto.

A alegria não conhece nossa casa,
a fome é saciada com a sagrada vontade das lixeiras
e a piedade que recebemos na palma estendida.
Como hoje a sorte sorri para mim,
posso descansar num miserável cochilo,
abrigo meu rosto entre as manchetes de um jornal amassado
                                   e guardo as memórias atrás das pálpebras
                                                                                                                          mais uma noite.


CARTA DE BETH THOMAS PARA MARY BELL

Era uma vez um menino que foi dormir e morreu.
Mary Bell

Eu te conhecia, sonhei que te conhecia.
Jogamos em um parque onde a raiva não podia nos encontrar
e nossa carne não era uma iguaria.
Algo tão simples como pular uma amarelinha desenhada por nossas mãos
longe das fitas amarelas.
O sol se escondia atrás de nossos ombros
e o rastro da noite deixava nossa pele intacta.

Mary, sonhei com um mundo verdadeiramente belo
onde deixamos de ser estudo de caso
e os demônios que sussurram atrás das portas
eram nevoeiros que se espalham depois de um leve vento.
Mary, o céu cantava canções de ninar que não tinham nada a ver com
o balbucio alcoólico de nossa infância.
Nossos berços cristalinos sem manchas de sangue,
eram lindos ninhos para o nosso voo
longe do fedor de esperma.
Não me lembro das cores de tudo isso,
pela primeira vez desejei compartilhar algo que não fosse dor.
Encontrei este espelho onde deixar o que simplesmente foi um sonho.


Com amor Beth Thomas

 

 

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