3 Poemas de Jorge Oscar Bach (Argentina, 1964)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Jorge Oscar Bach é dono de um estilo intenso e despojado, ele nos mergulha no mais profundo pensamento com uma linguagem cotidiana e direta. A leitura é ágil, os versos fluem harmoniosamente e nos conduzem por um caminho que nos leva a uma subjetividade que propõe novos rumos, outra forma de questionar a existência e sua relação com a realidade.

(…)

A sua poesia descreve situações e lugares, questiona o sentido da existência e propõe uma poética que mostra a procura da palavra certa, precisa para romper com a tradição e construir um universo que nos convida a partilhar.

Sentido e ritmo se transmitem, revelam um eu poético que vagueia pelo mundo, contempla e se contempla, sabe-se observador e não pode deixar de se perguntar sobre a própria existência. Olhar e pensar ligados a preocupações ancestrais: a passagem do tempo e o paradoxo de apreender o mundo e afastar-se para fazê-lo.

Um lirismo puro, quase arcaico, indica pertencimento, fragilidade e dor pelo exílio, é uma canção de tristeza / e não posso evitar, diz o poeta. Jorge Oscar Bach apela à aventura, a sua leitura é o desafio de aceitar a precariedade humana e ver nestes poemas a sua condição mediadora para ultrapassar os limites do quotidiano e ver para além dos outros mundos que nele estão, segundo Paul Éluard.

CRISTINA DANIELE


ENTRE LINHAS DA NOITE

A rosa murchou durante a noite
e quando a manhã diluir as sombras
dirás que as horas foram impiedosas.
Não o faças, é a natureza da espécie.
Em algum momento, a pétala, como o sangue,
seca e dá lugar a um tempo impensável; então
a fragrância da rosa se torna mais intensa
para enganar, como o amanhecer, a razão.
Por isso escolho a penumbra: na beatitude
da essência, tudo existe; nada se perde
quando o véu da aparência é rasgado.


CICLOS

A tarde termina.
A pintura retorna.
É o momento
em que os bois descansam
a inquietação do coração,
a alameda abriga o campo
e a sombra
e o clamor do tique-taque
animam redemoinhos sobre a esfera arborizada,
o túmulo
atrai as folhas das árvores
e a bússola transumante dos anos
gruda como latejos
no gesto da noite.
Tudo
                 foi
                           feito
e no entanto
o racimo de incêndios e rumores
não se abate,
os bois não esquecem
a virtude do coração,
o sol não renuncia à terra
nem a alameda deixa de fincar raízes.

É o final do dia
da força dos ciclos,
do hábito de esperar
a manhã
até o tempo
em que já
não temamos a morte.


[VIVEMOS O DIA]

Vivemos o dia
para sentir
que não o perdemos.
Ansiamos pela eternidade
e corremos o minuto.
Perdemos a perspectiva
do silêncio e da paciência.
Eu ainda tenho a imagem do meu pai
Sentado na cadeira
                    do jardim,
a seus pés a cadela
enrolada feito novelo;
ambos velhos
acariciado, pacientes,
cada milímetro do sol
na eternidade,
no segundo,
no silêncio.

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