3 Poemas de Tilsa Otta Vildoso (Peru, 1982)

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Tilsa Otta Vildoso (Lima, 1982) publicou os livros de poesia Mi niña veneno en el jardín de las baladas del recuerdo, Indivisible e o livro de contos Un ejemplar extraño. Escreve crítica de cinema, colunas de opinião para jornais e colabora com o blog alemão Superdemokráticos. Faz parte de antologias em diferentes partes do universo, além da antologia Venus ataca – 10 historietistas peruanas. Estudou direção de cinema e fotografia, tendo participado de mostras de vídeo coletivas e festivais de cinema em várias partes. Já realizou curtas-metragens como Dios es niña, 5 breves intervenciones, El amante sin cuerpo e Vale la pena vivir.


ANIMAL DEFINITIVO

Esconde tua luva cão lobo
O povo te alcança e as noites são pesadas
Sussurra distância em um vento ao ouvido
Encarna substância de deus em presas
Sal
Deforma a cauda do banco
Reeduca a governanta
Desenha o castelo cão lobo
Não empines o cotovelo
Fecha o focinho estirando a pata
Transcende a busca anal e salva o dia
Conclui a desordem cigana
Composta de planos com bobos
Decora o castelo
Aspirando o eco

Cão
Cão
Cão
Tu és Cão
Lobo Lobo
Nacionaliza-te lobo
Recorda a tua origem e cospe a fruta
Escreve teu riso na pele da ovelha
Rouba, caça, aniquila
Copula com cadelas
Copula com lobas
Mata Mata
Fica de quatro
Este é teu hino lobo
De canto obrigado em liceus selvagens
Em tardes peludas que entranhas às tontas
Lobo, Cão
Diabo Pobre
Animal definitivo


REFLEXÃO FINAL

É incrível o que a chuva pode fazer por uma parede manchada
Foi o que disse um anjo da área de limpeza
Às amas de casa
A elas que a cada manhã
Recolhem os restos de deus
Do sonho do homem que trabalha
Seus conselhos úteis deixam pistas inapagáveis
Rasgos de céu sobre a terra imunda
Iluminada a caminho de sua cova
Me abraça bem forte para ser humano
Seus longos dedos
Em sinal de vitória sustentem o céu
Eu caminho sobre o ar que respiro
Expiro
E amanhece em alguma parte
Tudo respira
E é impossível estar morto
Impossível deus
Com poucas palavras me criaste
E eu faço tudo isto
Eu crio tudo isto
E quando sinto que dou as costas à verdade
Me viro
E sei que gostas de meu amor


[ELE FEZ AMOR COMIGO]

Ele fez amor comigo me esmagando contra a parede até que eu me tornei um grande pôster de uma garota nua com quem ele imediatamente se masturbou. O amor dói, mas o sexo não deveria. Totalmente ausente. Não deveria. De repente, eu saí e os deixei sozinhos. Devo pedir perdão? Quem está com vocês? Os nervos resultantes da ingestão excessiva de substâncias cor-de-rosa condicionaram minha experimentação. Eu disse o que realmente sentia, mas estava tão bêbado que não me lembro mais. Nunca mais me lembrei disso. Não sei mais, não sei o que sinto. Isso me deprimiu por um tempo, por um tempo morto, morto de riso, isso me deprimiu por um tempo morto de riso. Foi um amor ausente. Lembro-me, porém, que você me beijou sem nenhuma consideração pelas minhas vidas passadas, pois eu amava uma jovem desaparecida. Ela me amou da mesma forma e foi transformada. Quis ganhar seu coração e arrisquei na loteria pensando que tudo pode ser comprado se em vez de dinheiro você tiver um bilhete de ida. Saí sentindo que merecia o amor dos deuses e o tinha, estava usando no verão como substituto. Contei umas piadas que foram na verdade minha vida e alguém comentou que a existência é uma vestimenta de couro que gruda no corpo e quando você dança faz suar, mas é legal e não sai de moda. Porque alguém sempre vai falar da vida e confessar que a tem, que tem, que tem. Que é seu porque é seu porque é nosso. E não podemos deixá-la, e não podemos deixá-la. Eu profetizo e enfatizo e no meio dos seus olhos eu sopro uma leve névoa que tira a sua virgindade. Você não é mais um menino ou uma menina, você também não morreu. Você deve sair para comer algo até descobrir que sempre esteve dentro de você e sentirá o gosto da sua essência, não conseguirá mais parar e então ficará indigesto. Realidade. Que me queres dizer com isso? É esse o seu argumento? Você e quantos mais? Sua? E? Mais quantos? Você já ouviu um grilo cantar ao anoitecer? Você e quantos mais? Sua infância é uma ilusão, você apareceu quando lhe conheci e é isso. Você apareceu quando eu lhe conheci e você já era adulto, por isso me apaixonei por você, porque você era novo, recém-saído do forno e cheirava a centeio, centésimos de segundo, a milímetros da minha boca e você queimou minha língua quando lhe dei o primeiro beijo de sua carreira. Agora, uma tatuagem temporária no lobo frontal redireciona minha paixão.
Acordei em uma nova escuridão, vi um desejo fugaz e pedi uma estrela. Descobri que mentir para mim era romântico por temporadas, dizer palavras doces e depois colheres de chá e depois um pires. Dizia que se você me amasse eu poderia escrever seu nome no céu para que brilhasse como o sol, mas não se esconderia. Seu nome nunca seria escondido e só isso o diferenciaria do sol.

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