Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía
Riccardo Castellani (Asunción, 1985). Foi membro fundador da academia literária da Faculdade de Filosofia UNA “Kavurei” e publicou em suas antologias. Escreveu com José Villamayor o livro Jazz no Paraguai, foi régisseur da Ópera Mercosul e coordenador do Departamento de Artes Cênicas do Ateneo Paraguayo. Dirige o grupo Teatro bajo la arena.
VÊM CORDEIROS BEBER SANGUE DA FERIDA
Vêm
cordeiros
beber
sangue
da ferida
Como chamar
a morte
se ela não tem
nome?
Um anjo
oferece pregos
na rua.
(Amanhece,
chove,
canta-se
ainda).
AMARRO AS VEIAS
Amarro as veias,
fecho a sombra.
As dobras estalam
e uma asa se quebra.
Procuro minhas unhas
para morrer.
COMO ESPASMOS DE UM ENFORCADO
Como espasmos de um enforcado
que se assemelham à dança,
tudo é tão triste que provoca riso.
Espero um navio
que zarpe para o naufrágio.
Granizam palavras sobre o teclado.
Um anjo grita
e faz-se silêncio.
CRAVA TUAS UNHAS NA TERRA
Crava tuas unhas na terra.
Procura os ossos dos teus mortos.
Aconchega-os, eles têm frio.
Limpa a grama de suas bocas,
deixa que digam o seu silêncio.
Devora as carnes que restam,
não permitas que se decomponham sem sentido.
Eles morreram para que vivas.
Não os deixes morrer novamente.