5 Poemas de Edu Barreto (Paraguai, 1978)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Edu Barreto (Assunção, Paraguai, 1978) é designer gráfico e professor universitário. Participou de oficinas literárias presenciais ministradas pelos escritores Victorio Suárez, Lia Colombino, e também à distância com a argentina Laura Yasán (premiada pela Casa de las Américas, em Havana, 2008). Alguns de seus poemas foram publicados em Cuando maduran los signos, uma coleção de poemas do Taller Literario de la UNIBE (2008), Poetas por KM2 (2014), Aposíntesis (2015), El Guajhú # 7 (2016). Seu conto “Ramón/Zulema” faz parte da antologia de contos eróticos Lascivia Textual, lançada pela Revista Y (2014). Irregularmente, ele alimenta seu blog: contuberniocatartico.blogspot.com com textos que tentam se assemelhar à poesia desde 2005. Atualmente, vem desenvolvendo o projeto “BienCerca”, poesia íntima em espaços públicos, que consiste em ler poesia no ouvido das pessoas nos bancos das praças de Assunção. Nas tardes, ele imagina que a espera é uma tarântula, que passeia por seu ventre.


[ME DEPAREI COM UM GAROTO DE OLHOS DISTANTES]

Me deparei com um garoto de olhos distantes
e não perguntei seu nome…
Foi perto do Mercado.
Desde ontem, tenho ido comprar
coisas que não preciso:
Uma gravata,
dez berinjelas,
listras anatômicas
para ver se o encontro.
Perguntei ao policial,
ao açougueiro,
à vendedora de ovos…
Só recebi insultos.
Ninguém distingue olhos distantes
quando está perdido no barulho.
Subi nos ônibus
e perguntei se alguém viu
o garoto de olhos distantes.
Ninguém respondeu.
Só recebi empurrões.
Foi inútil.
Nem no Mercado, nem nos ônibus
ninguém vê olhos distantes
nesta cidade de cegos miseráveis.


ACIDENTE

Ele falou de uma mulher
lembro,
e invadiu minha cama
num sábado,
com a chave do
desejo atrasado.
Uma vez, acidente.
A terceira
se reconhece habitante.
Sem desculpas,
guiei-o por meu corpo:
território lamacento de gemidos
A cada investida,
as palavras
mudaram de cor.
Foi o gato
que gritou
o nome de homem
no meio da noite.
Cedo, nos vestimos
para ocupar
o lugar de simples coincidências.
Na rua,
nossos corpos
foram equações não resolvidas.
O asfalto foi um deus
que exigiu muito.


DESVIADO

Filho bastardo
de mãe solteira
e ainda gay:
carrego em mim todos os seus monstros.
Sobre meus ombros:
o sobrenome solitário,
saliva de homens que acabaram
e se vestiram.
O caminhar afetado,
às vezes escondido,
às vezes exagerado.
Uma vida duvidosa.
O radical/o insano/o ressentido…
Assim, meu nome será santificado?
Inseguro, paranoico,
mas nunca o esfíncter contraído.
Exigiram masculinidade
e mostrei-lhes o traseiro.
Exerceram autoridade
e lhes cuspi no rosto.
Pediram discrição
e gritei: ORGULHO.


(ANAL)TÔMICO

É preciso ser distraído
e deixar o anatômico
na casa do amante.
Signo gasto de marcar território…
É preciso ser cínico
e organizar um museu de cuecas
como chuteiras do corpo a corpo:
Listradas, com bolinhas, manchadas.
A sua ocupa um lugar privilegiado.
Ter suas iniciais bordadas perto dos testículos
é o sinal mais claro
da sua insignificância.


MASSAGEM

Pensamos na vulnerabilidade
que ficamos ao deixar o corpo
desnudo diante de um par de mãos?
Nódulos, dor e contraturas.
Seu nome é uma puxada dolorosa.
Tem a pele morena.
Força nos braços.
Uma respiração pausada.
Sinto cheiro de jasmins no ar.
As coxas vibram com o toque.
Tento olhar o volume dele
mas o perigo aparece.
Ele pede para virar
como quando você estava
nas minhas costas.
Nem o suor se controla.
Me destapa
e olha minha ameixeira
querendo alcançar o céu
sem vento.
É impossível,
e a pulsão é involuntária.
O desejo é uma flor
que cresce entre toalhas,
a anos-luz do seu corpo.

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