5 Poemas de Lourdes Ferrufino (El Salvador, 1992)

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Curadoria e tradução de Gladys Mendía

Lourdes Ferrufino (Santa Rosa de Lima, La Unión, El Salvador, 1992). Licenciada em Letras pela Universidade de El Salvador (UES – FMO). Tornou-se conhecida pelo Certame Literário de Mulheres La flauta de los Pétalos (2015) organizado pelo Centro de Estudos de Gênero da UES. Dirige os ciclos de poesia “La Página Desértica”. Aparece no Índice geral de poetas salvadorenhas Las muchachas de la última fila (Zeugma editores, San Salvador, 2017) e Poeta Soy, poesia de mulheres salvadorenhas (MINED, San Salvador, 2019). Parte de sua poesia foi publicada no Suplemento Tres Mil do Diário Co Latino, Revista Cultura n.º 121 e diversas revistas digitais. Participou no Festival de poesia escrita por mulheres Outro Modo de ser. Plaquetes publicadas: La Espina Etérea (San Miguel, 2016) Diluvio (San Salvador, 2017). Dedica-se ao ensino.


CELEBRAÇÃO

Celebro minha permanência no olho da fera
celebro que meus lábios ainda inquietos
não saibam nada de preces.
Celebro o ciclo da infinitude
isto é, minha permanência no olho da fera.
Dirão de mim que fui semente desperdiçada
infértil até a última gota
por isso celebro a altivez das estátuas
enviadas para me dar a canção de espiga
a mesma que atravessa meu pescoço
por cada mulher dissoluta que como eu
também foi estátua.


ORAÇÃO CONTRITA

Senhor
posso colocar a verdade em tuas mãos
e farás com ela o que te aprouver
posso, se necessário,
apagar meu nome e me chamar chuva
só se o tempo se tornar sangue.
coloco a verdade em tuas mãos
cedo assim meu temor ao fogo
mas nunca, nunca
me digas que pagaste adiantado
minhas apostas com teus anjos de chumbo.


A AMBIGUIDADE DO SEDENTO

O verdadeiro é que o sedento existe
além do improvável
nunca saberemos
se resistir à miragem
é sinal de sanidade
se a ambiguidade do sedento
é sinal de fracasso
se o sedento amaldiçoa sua língua
porque em todos os seus sonhos
a morte lhe parece líquida.


AMOR ENTRE FIOS

Aos homens de todo o mundo
eu os gostaria de beijar
tão logo me lembro de sua condição de bestas
corto o fio.


NUME DE COMPUTADOR

Todo tempo repleto de humidades
exige vãs formas de esquecimento.
Repetir-se em frente ao computador:
não tente beijá-la desde a tela
ela é uma deusa de busto firme
e domina as estratégias do desejo.
Busco a eloquência de seus mamilos
sem compreender o doce artifício que dissimulam.
Nego tua idade, esqueço a minha.
Sinal de um assombro que não se permite.
Não resisto
ligo o computador e digito teu nome.
Garotinha pagã:
há muito que vives
em um abismo repleto de idólatras.

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