5 Poemas de Roberto Echazú (Bolívia, 1937-2007)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Roberto Echazu (Tarija, 1937-2007). Poeta e ensaísta. Foi codiretor da revista cultural Sísifo. Em 1984, foi membro do júri do Prêmio Casa de las Américas. De 1989 a 1992, desempenhou funções diplomáticas em Cuba. Livros de poesia: 1879 (1961), Akirame (1966), Provincia del Corazón (1987), Morada del Olvido (1989), Sólo Indigencias (1989), La Sal de la Tierra (1992), Gabriel Sebastián (1994), Humberto Esteban (1994), Camino y Cal (1997), Inscripciones (1997), Umbrales (1998), Memorias cercanas (2000), Memorias Recurrentes (2002), Cercas de Soledad (2003) y Sobre las Hojas del Otoño (2006).


NO MAR

1.

No mar,
homens cheios de tristeza apontaram seus rifles para o céu.

2.

Construíram castelos de vitória
no acaso da justiça

3.

A morte não tem corpo quando se defende
não apenas a vida.

4.

Mulheres e crianças, homens e idosos,
morreram felizes.
A fealdade os encheu de alegria
já madura a morte.

5.

Aqueles que buscam tesouros na injusta desculpa
têm mais palavras com que calar a vergonha.

6.

Sobre a miséria de seu orgulho
edificaram o futuro.

7.

Para amar choraram, para morrer riram:
o sacrifício de todos os tempos.

8.

O amor, a morte, têm idêntica confiança:
a alegria e a coragem de viver como possível,
e a morte que compartilha
o melhor da vida.

9.

O ódio que desencadeia derrota e fracasso,
o sangue que constrói vitória e porvir.
Não duvidemos mais da inocência dos homens
quando se misturam, cúmplices de uma mesma madrugada.

El odio que desata derrota y fracaso,
la sangre que construye victoria y porvenir.
Ya. no dudemos de la inocencia de los hombres
cuando se ven mezclados, cómplices de una misma aurora.


SE TODOS ABANDONÁSSEMOS A CONFIANÇA

Se todos abandonássemos a confiança da espera,
o futuro das ilusões retornaria ao mundo
confidencial.

Mas com que palavras suavizaríamos o esquecimento,
sabendo que tudo é injusto, tudo é vão!,
a confiança do destino nos deixaria loucos;
a paz, estranhos; o amor, torpes.

Se déssemos tudo, saberíamos de uma vez
que nada nos pertence. Tudo tem uma morte natural;
nós, somente a esperança.

A paz pura, o amor puro, desapegado de sua sombra,
lavando nossos rostos com sua própria luz:
um rio onde os peixes são acrobatas do céu,
e inocência pura, apenas sua palavra.

Se eu dissesse tudo, eu me bastaria, como sempre,
mesmo com a inocência de sabê-lo esquecido.


E CAÍRAM APENAS CINZAS

Libânia
me contou
que estava
morta
e
eu também
lhe contei
que estava
morto.
– “A história
é sempre
a mesmo –
uns primeiro
e
outros
depois”.
Nossas
mãos
se juntaram
e
caíram
apenas
cinzas.


OS PRIMEIROS PASSOS DO ESQUECIMENTO


conheceste
os gramofones
e
as lojas
sem luz
– vou te contar
que aqui
na terra
as coisas
mudaram
bastante.
Ou
talvez
saibas
melhor
que eu.
Recordo
a brincadeira
que saía
de tuas mãos
e
as auréolas
de prata
que guardavas
nos velhos
baús:
– depósitos
de Deus
que apenas tu
conhecias
Entre
teus braços
aprendi
a dar
os primeiros
passos
do esquecimento.


ARMINDA

Arminda
tinha
um mapa.
Me mostrava
ursas
asiáticas
apontando
sus tetas
que caíam
sobre
a mesa.

“Esta
outra coisa
que está
aqui
é uma árvore
que cresce
nos desertos”
– me disse –
despojada
de todo
espanto.

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